Em contagem para um momento histórico
Se a Copa do Mundo em 2014 já foi um momento histórico, estamos a oito dias de viver algo ainda mais grandioso, embora concentrado praticamente em apenas uma cidade, e não em 12. É a primeira vez na história que o maior evento esportivo do planeta será realizado no Brasil e também na América do Sul. Esta semana tem sido preenchida basicamente por um tema, que são as falhas na Vila Olímpica, inaugurada domingo. Mas, ao contrário da má impressão deixada pelos problemas hidráulicos, elétricos e de acabamento nos alojamentos dos atletas e da declaração desastrosa do prefeito Eduardo Paes para os australianos, a organização dos Jogos tem sido satisfatória. Quase todas as obras foram entregues no prazo – exceto o velódromo – e as empreiteiras suspeitas de fraudes em Deodoro estão sendo investigadas pela Polícia Federal e Ministério Público. Em uma visão panorâmica, o único grave problema dos Jogos do Rio é a poluição da Baía de Guanabara. A baía, palco das competições de vela durante duas semanas e cartão-postal da cidade durante 365 dias por ano, não foi tratada como prioridade de governo, apesar da promessa de despoluição feita desde a eleição do Rio como sede da Olimpíada, em outubro de 2009. O outro grave problema desta Olimpíada é o escândalo de doping que tem a Rússia no centro da polêmica. Por sinal, esta não é uma questão do Rio de Janeiro, mas de todo o esporte de alto rendimento. Os Jogos não terão o brilho de uma bicampeã olímpica como a saltadora Yelena Isinbayeva, que nunca testou positivo em um exame antidoping, só pelo fato de ser russa. Mas atletas não russos com histórico de doping disputarão medalha, como a brasileira Ana Claudia Lemos e o americano Justin Gatlin, para ficar somente no atletismo. Haverá outras deficiências na edição brasileira da Olimpíada, claro. Mas, em geral, de menor porte diante da grandiosidade do evento. A Vila Olímpica foi reparada e, mesmo que não fique perfeita, é um caso pontual; o metrô ligando a zona Sul à Barra da Tijuca, onde acontecerá grande parte das provas, será inaugurado no sábado, após um curtíssimo período de testes, e pode apresentar falhas na operação. O Rio não fará uma Olimpíada perfeita. Tampouco não está essa bandalheira toda que o noticiário dos últimos dias leva a crer. A imprensa faz seu papel de fiscalizar a apontar as falhas, mas tomara que “a bola role” logo. E que o povo brasileiro esteja ciente que não somos uma potência olímpica. Nunca fomos, nem seremos da noite pro dia só porque o evento é dentro de casa. Para efeito comparativo, o Brasil conquistou 108 medalhas no somatório das 20 edições dos Jogos Olímpicos da era moderna, desde Atenas-1896. Os Estados Unidos ganharam 103 apenas em Londres-2012. Falando em ouro, o recorde nacional foram cinco em Atenas-2004. Quatro anos atrás, ganhamos só três, com a judoca Sarah Menezes, o ginasta Arthur Zanetti e com o time feminino de vôlei. Por isso, cada prata e cada bronze representam uma vitória, e não a perda de um ouro. O time Brasil também é inexperiente. Dos 465 atletas que defenderão a bandeira nacional no Rio, 67% competem em uma Olimpíada pela primeira vez. É natural que esse índice tenha aumentado porque, como anfitrião, o Brasil tem direito a vagas em modalidades nas quais dificilmente conseguiria o índice se os Jogos fossem realizados em outro país – o recorde de atletas brasileiros era em Pequim-2008, com 277.
Que o povo brasileiro esteja ciente que não somos uma potência olímpica. Nunca fomos, nem seremos da noite pro dia só porque o evento é dentro de casa. Cada prata é uma vitória, e não a perda de um ouro
TRÉGUA OLÍMPICA Já que o mês de agosto será dedicado à Olimpíada, as colunas diárias do Esporte darão uma trégua a partir da semana que vem e retornarão quando o maior evento do mundo acabar.