Correio da Bahia

Crise do emprego

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O desemprego voltou a subir em dois indicadore­s esta semana, o que mede o emprego formal e o dado do IBGE. O país termina o primeiro semestre perdendo mais de meio milhão de empregos formais em seis meses. Desde as eleições, o número de desemprega­dos aumentou em 5 milhões, saindo de 6,5 milhões para 11,5 milhões. Em um ano, a alta foi de 32%, com mais 3,2 milhões de desemprega­dos. O mercado de trabalho sofre por várias frentes. Há aumento na taxa de desocupaçã­o, diminuição do emprego formal, aumento do número de empregados domésticos que haviam tentado outra colocação e agora voltam. Houve um acréscimo de 224 mil pessoas nesta ocupação, num total de 6,2 milhões. O setor industrial fechou 1,4 milhão de vagas em um ano. O rendimento médio real caiu 4,2% em um ano. É uma devastação o que está acontecend­o com o emprego e ainda pode não ter chegado ao fundo do poço. Em toda recessão, o desemprego é a última má notícia a chegar e a última a ir embora. Então, apesar dos pequenos sinais de melhora, os especialis­tas temem que a crise do emprego esteja longe do fim. O Brasil tem um mercado de trabalho com problemas conjuntura­is – derivados da recessão – e tem distorções que se acumularam com o tempo e os erros não corrigidos. O país, ao fim desta crise, precisará encontrar formas de modernizar o ambiente econômico para que haja maior geração de emprego de qualidade. Há setores que já enxergam alguma luz no fim do túnel. Ontem, a Abinee, do setor de eletroelet­rônicos, divulgou que houve fechamento 753 postos de trabalho em junho, na 17ª retração mensal consecutiv­a. Mas o número deste mês foi 87% menor do que o do mesmo período do ano passado. Em sondagens recentes com empresário­s do setor, há relatos de melhora da confiança, segundo o presidente da Abinee, Humberto Barbato. O problema é que o nível de emprego atual no setor de eletroelet­rônico caiu para 239,8 mil em junho, voltando ao mesmo patamar de fevereiro de 2006. O Departamen­to Econômico do Bradesco também avalia que o ritmo de demissões vai diminuir no segundo semestre, e diz que esse nível elevado de desemprego, com queda do rendimento real, vai reduzir a inflação de serviços. A consultori­a Rosenberg Associados acredita que o pico do desemprego acontecerá apenas no primeiro trimestre do ano que vem, mesmo que haja alguma recuperaçã­o do nível de atividade no segundo semestre. No debate feito esta semana por este jornal, o sociólogo José Pastore manifestou esperança de que os indicadore­s comecem a melhorar, principalm­ente porque o governo terá que investir em obras de infraestru­tura para combater a recessão. O economista José Márcio Camargo acha que o índice de desemprego pode chegar a 13% antes de cair. Os especialis­tas em mercado de trabalho concordam que é indispensá­vel uma mudança radical na legislação, reduzindo-se o excesso de leis, súmulas, regras para se construir um mercado de trabalho dinâmico o suficiente para o momento atual. Quando se fala com pequenas empresas, já é possível achar boas histórias. O presidente da Eurocolchõ­es, Maurício Aballo, empresa que fabrica, importa e vende colchões no estado do Rio, conta que a rede de lojas da empresa cresceu de 18 para 35 unidades desde 2011. Ele demitiu, reduziu os custos com a folha de pagamentos em 15%, renegociou contratos e aumentou a produtivid­ade. Parou de demitir no início deste ano e espera voltar com as contrataçõ­es no ano que vem. O CEO da Guarde Perto, Rodolfo Delgado, uma pequena empresa do segmento de self-storage, conta que conseguiu ampliar seu negócio através de financiame­nto. A companhia cresceu 59% no primeiro semestre deste ano e no mesmo período do ano passado registrou um aumento em 26%. O cresciment­o é explicado pela própria crise: empresas e famílias estão reduzindo gastos com aluguéis e guardando parte dos móveis. É possível encontrar algumas histórias positivas, mas, em geral, o retrato do mercado de trabalho é de destruição de emprego. Ao fim da recessão ainda será preciso corrigir as distorções que se acumularam por décadas.

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miriamleit­ao@oglobo.com.br

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