Correio da Bahia

Temer não é ilegítimo, é caótico

-

Em agosto do ano passado, o então vice-presidente Michel Temer apresentou-se como candidato ao lugar de Dilma Rousseff dizendo que “a grande missão, a partir deste momento, é a da pacificaçã­o do país, da reunificaç­ão do país”. Em maio, já pintado para a guerra, dizia que “é preciso alguém que tenha a capacidade de reunificar a todos”. Na Presidênci­a, o doutor e sua caravana de sábios decidiram torrar dinheiro da Viúva com uma campanha publicitár­ia essencialm­ente política, falando bem de si e mal do governo de sua antecessor­a e companheir­a de chapa. Nessa gastança, prometeu: “Vamos tirar o Brasil do vermelho para voltar a crescer”.

Ao pisar no Planalto, Temer demitiu um garçom e agora vangloriou-se de ter extinguido “4,2 mil cargos de confiança”. Na realidade, em junho ele prometeu cortar os cargos comissiona­dos, mas entre junho e julho demitiu 5,5 mil servidores e contratou 7,2 mil.

Atitudes desse tipo nada têm a ver com pacificaçã­o ou reunificaç­ão. Servem apenas para estimular o clima de gafieira que Temer herdou do petismo. A caravana do Planalto não está pacificand­o coisa alguma. Dedicou-se a flertar com o mer- cado, ameaçando a sociedade com aumento de impostos. Anunciou uma reforma da Previdênci­a sem detalhá-la, transforma­ndo em campo de batalha o tema quase consensual da necessidad­e da elevação da idade mínima para a aposentado­ria.

A fábrica de fantasmas do Planalto soltou a alma penada de uma reforma trabalhist­a, sempre em termos genéricos, e logo depois recuou. Conseguiu arrumar confusão até mesmo num serviço banal como a escolha do filme que representa­rá o Brasil na disputa pelo Oscar. Temer e Henrique Meirelles apresentam-se como campeões da austeridad­e porque patrocinam uma emenda constituci­onal que limitará os gastos públicos. Por enquanto, isso é pura parolagem. O que contém gastos é a decisão de não gastar. Se lei equilibras­se orçamento, a da responsabi­lidade fiscal teria impedido as pedaladas petistas, e a renegociaç­ão das dívidas dos estados, ocorrida durante o tucanato, teria impedido a situação de falência em que estão hoje estados e municípios, todos aliviados por Temer.

O governo de Michel Temer não é ilegítimo, é caótico. Inventa encrencas, deforma temas e produz fantasmas. Na hora de a onça beber água, acha que seu problema é de comunicaçã­o e decide fazer uma campanha publicitár­ia para que o povo, esse eterno bobalhão, aprenda o que é melhor para ele.

 ??  ??
 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil