ROGÉRIA - UMA MULHER E MAIS UM POUCO
rava como podia para que isso não acontecesse e estragasse o encanto do “bofe".
“A tática usada com Mariel para meu pau nunca aparecer eu tirei da cena de Carroll Baker, da personagem Babydoll Meighan, no filme Boneca de Carne (1956), de Elia Kazan, com roteiro de Tennessee Williams. Na cena de sedução, ela botava uma almofada entre as pernas para ficar sensual e provocar o amante. Passei a fazer isso sempre, uma almofada, um travesseiro, uma garrafa de vinho, qualquer coisa”, diz.
A FORÇA DO CABELO
Rogéria passou por Angola e Moçambique antes de desembarcar em Barcelona, numa experiência turbulenta, e alcançar o sucesso internacional em Paris. Em Barcelona, na boate Gambrino’s, foi pressionada a realizar operação de mudança de sexto, algo que nunca a atraiu.
“Eu tenho o melhor de dois mundos (risos) e ainda vou mais rápido ao banheiro, porque o banheiro masculino não tem filas grandes como o das mulheres. Jamais seria um transexual, porque gosto de ser Astolfo e não cortaria meu peru por nada. E depois não existe isso de se criar uma buceta com uma operação - ou se nasce mulher ou não”.
É interessante observar que a personagem Rogéria, a estrela loira e glamurosa, passou a ser Rogéria full time a partir da vivência na capital francesa, no começo dos anos 70, quando se apresentava na boate Carrousel, usava perfume da Estée Lauder e deixou o cabelo crescer.
“Me orgulho das pessoas dizerem que até meu perfume é de mulher, que tenho cheiro de mulher (risos). Na hora que meu cabelo cresceu, porque antes eu usava peruca, foi que senti o tchan! A partir daquele momento virei uma estrela, me sentia uma estrela. Mulher diz que tem cidade que é melhor para o cabelo crescer e é verdade. Sinto isso em Paris e Nova York”, revela enquanto pergunta se o repórter gostou do livro.
De volta ao Brasil e já reconhecida como estrela, o filho de dona Eloah - que sempre o apoiou - nunca mais parou de brilhar. Em 1979, por exemplo, conquistou o Mambembe de atriz revelação pela atuação na peça O Desembestado, de Aderbal Freire-Filho, contracenando com Grande Otelo e Nelson Caruso.
“Uma vez, quando eu ainda sonhava em ser uma atriz e tinha dúvida sobre isso, porque era insegura, Fernanda Montenegro me disse que eu podia ser, sim, uma artista, que no palco não há censura, não há sexo, podemos ser tudo”, recorda.
VISÃO PRÓPRIA
Ícone da homossexualidade no Brasil e orgulhosa da formação religiosa que teve, inclusive frequentando missa até hoje, Rogéria tem pensamentos que desafiam o tom politicamente correto do movimento LGBT atual.
“Nasci homossexual, nunca fiquei em armário, não acredito em opção sexual e sempre me posicionei contra qualquer tipo de hipocrisia. Tem gente de movimento gay que não gosta de algumas coisas que digo, mas para esses eu falo que, antes deles chegarem, já existia Rogéria, meu amor”.
Altiva, a artista convive muito bem com a sua sui generis saga, incluindo as cicatrizes decorrentes de um acidente de carro, em 1981, que machucou muito o seu rosto.
“Ali tive medo, mas Pitanguy deu um jeito e resolvi tirar a cicatriz do lugar onde ela mais poderia me afetar, o coração. Menos de dois meses depois, eu estava em frente às câmeras de TV”, diz.
Fundamental no Brasil para que o travesti deixasse de ser associado sempre à prostituição, Rogéria espera vir lançar a biografia em Salvador, de onde guarda boas recordações: “Descia a ladeira do Pelourinho pegando geral nos anos 70, sobretudo os negões. Nunca tive racismo. Fazia a gringa. Baiano é muito sexy”. Mariel Mariscot Rogério viveu uma grande paixão com Mariel, famoso policial-bandido carioca dos anos 60 e 70, acusado de pertencer ao Esquadrão da Morte
Autor Marcio Paschoal
Editora Estação Brasil
Preço R$ 44,90 | 271 páginas (incluindo 32 págs com fotos)
Astolfo-Rogéria Criador e criatura. Ele sente orgulho de ter nascido homem e nunca quis fazer operação de mudança de sexo:
“Jamais seria um transexual porque amo ser o
Astolfo” Paris Com shows de sucesso na boate Carrousel, em Paris, em 1973, Rogéria fez um ensaio com o fotógrafo André Nizak