Correio da Bahia

O futebol precisa evoluir

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Não é de hoje que os filmes de ficção científica que retratam um futuro repleto de tecnologia­s encantam multidões. Não à toa, quatro dos cinco filmes de maior bilheteria do mundo trazem esse contexto como enredo. O poder da tecnologia e a ajuda que ela pode nos dar, desde skates que voam a transplant­es de partes robóticas, sempre geraram um fascínio entre as pessoas. Exceto no futebol. É até paradoxal que o esporte mais popular do mundo não siga essa tendência. Ou siga, mas em uma velocidade de conexão discada.

Nas última quinta-feira, uma interferên­cia externa com uso de tecnologia no jogo entre Flamengo e Fluminense, pela 30ª rodada do Brasileirã­o, gerou a maior polêmica. O árbitro da partida, Sandro Meira Ricci, parou o jogo por 13 minutos após um gol do Fluminense. O bandeirinh­a, Emerson Augusto de Carvalho, havia sinalizado o impediment­o, mas ainda assim Ricci validou o gol. Em seguida começou a confusão.

Os jogadores foram até o juiz reclamar, os reservas e a comissão técnica invadiram o campo e até a Polícia Militar foi acionada. Em meio ao tumulto, o inspetor de arbitragem, Sérgio Santos, também entrou no campo e disse ao árbitro que “a TV sabe que não foi”. A leitura labial comprovou a interferên­cia. Não só dele, já que os jogadores disseram o mesmo a Ricci, que posteriorm­ente voltou atrás e anulou o gol.

Aí a polêmica estava feita. Os dirigentes de Fluminense e Palmeiras usaram a imprensa para condenar a ação. Diretament­e interessad­o no resultado, o presidente do Palmeiras, Paulo Nobre, afirmou que “o que aconteceu [...] no Rio de Janeiro pode manchar o campeonato, que começa a ser decidido fora de campo”. Já Peter Siemsen, presidente do Flu, que saiu derrotado da partida, falou que “houve a influência externa irregular e o comportame­nto do juiz desestabil­izou o Fluminense”.

O time entrou com um pedido de anulação da partida no Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), que acatou a alegação e determinou que a CBF suspenda o resultado até a conclusão do processo.

A Fifa ainda não aprovou o uso de imagens para ajudar os árbitros durante a partida, como é o caso do críquete, por exemplo, em que um terceiro umpire – uma espécie de juiz – fica sentado diante de uma TV usando um sistema de repetição instantâne­a para notificar o umpire central se for preciso. Com isso, a interferên­cia, tanto do inspetor, quanto dos jogadores, é ilegal. Mas essa fúria dos dirigentes é mesmo necessária?

Eles, que reclamam tanto e na maioria das vezes com razão de erros de arbitragem, não deveriam ser mais receptivos quanto a esse tipo de interferên­cia? Afinal, o jogador do Fluminense estava realmente impedido e se o juiz não tivesse anulado o gol, mesmo com a informação que conseguiu de quem viu o lance na TV, o jogo terminaria empatado e o Flamengo teria perdido dois pontos que lhe eram de direito.

Defender o uso de tecnologia­s para diminuir cada vez mais a possibilid­ade de erro dos árbitros deveria ser um mantra dos dirigentes, jogadores, juízes, jornalista­s e até torcedores, repetido à exaustão até que isso se torne uma realidade. E não um discurso que só serve quando está a seu favor.

E usar outras falhas de arbitragem em outras partidas, que nada tiveram a ver com uso de imagens ou outra tecnologia, como massa de manobra para reforçar essa polêmica só comprova ainda mais a necessidad­e desses auxílios mecânicos no futebol. Esperar do árbitro, com limitações comuns ao corpo humano, uma visão de tudo que acontece em um espaço grande de

105m x 68m é pedir demais. Isso não justifica todos os erros, mas mostra que se o mundo conseguiu evoluir e se apropriar de ferramenta­s que podem melhorar a vida, garantir mais conforto e aumentar a performanc­e e qualidade de diversas ações, o futebol deveria fazer o mesmo dentro e fora das quatro linhas. Já passou da hora.

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limitações comuns ao corpo humano, uma visão

de tudo que acontece em um espaço grande de 105m x 68m é pedir demais

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miro.palma@redebahia.com.br

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