Sopro externo
O ponto de virada da economia continua incerto, como mostrou a nova queda do índice de atividade do Banco Central, em agosto. Mas a mudança de governo e a agenda de reformas estão despertando novamente o interesse de bancos e investidores estrangeiros no país. Segundo dados da Anbima, as captações externas estão se normalizando, e isso vai ajudar a aliviar o caixa das grandes empresas.
No ano, as empresas brasileiras captaram US$ 19 bilhões no exterior, mas apenas US$ 1,5 bi veio antes de maio, mês em que houve a troca de governo. Rafael Noya, diretor do Santander, conta que as conversas com investidores lá de fora nunca cessaram, mas agora os negócios estão se concretizando. Em todo o ano passado, de forte incerteza política e agravamento da crise, as companhias brasileiras captaram apenas US$ 6,5 bilhões, bem menos que a média dos cinco anos anteriores, de US$ 24,4 bi. Essa queda intensa atrapalhou o planejamento e travou investimentos:
- O país está recuperando a credibilidade. Havia lá fora uma preocupação institucional com o Brasil e com a corrupção por aqui. Os juros lá fora estão baixos, há muito dinheiro no mundo, mas as empresas brasileiras não aproveitaram esse cenário no ano passado.
Fazendo a conversão pelo câmbio médio, as corporações captaram neste ano R$ 67,3 bi no exterior, mais do que os R$ 52,4 bi tomados dentro do Brasil. Diversos setores se beneficiaram desse novo momento. Votorantim, Ultrapar - dona da rede de postos Ipiranga - e BRF fizeram ofertas de captação recentemente. Outras grandes companhias também estão se preparando. Elas aproveitam os juros baixos para alongar o endividamento. Isso alivia o caixa e dá mais segurança para executar seus programas de investimentos.
- O estrangeiro está mais receptivo. Novas operações devem ocorrer em novembro e dezembro. E janeiro deve voltar a ser um mês forte para a captação das grandes companhias - conta Felipe Wilberg, diretor de renda fixa do Itaú BBA.
O risco das captações externas está na desvalorização do real. Mas, em um cenário de reformas, elas podem aliviar os efeitos da crise.
A VEZ DA PETROBRAS
A Petrobras vai aproveitar o momento para voltar a levantar recursos no exterior. Uma fonte próxima à administração conta que a expectativa é captar com juros mais baixos. Em maio, a Petrobras aceitou pagar mais de 8,5% ao ano em dólar, e a intenção agora é chegar perto de 5%. A confiança na nova administração já ajudou a derrubar o CDS, o seguro contra o risco da empresa (veja o gráfico). Em 2013, A Petrobras captava com juros de 3,1%. PARTE AQUI, PARTE LÁ
A FB Capital estima que 75% dos brasileiros que aderiram ao programa de repatriação não trouxeram todo o dinheiro para o Brasil, o que é permitido pela lei. O executivo de um banco conta que o padrão é o cliente repatriar apenas uma parte dos recursos regularizados, que rendem multa e impostos ao governo. Ter ativos no exterior continua sendo uma estratégia para diversificar investimentos. Outro perfil é o do empresário que traz um pedaço das reservas para equilibrar as finanças da companhia.
RETOMADA LENTA
O Departamento Econômico do Bradesco vai reduzir a projeção para o PIB do ano que vem, hoje em 1,5%. Pode ficar abaixo de 1%. ESTRATÉGIA
Ao ser conservador com a Selic, o Banco Central conseguiu diminuir os juros de longo prazo, que pesam mais sobre os investimentos.
BNDES
As consultas por financiamento no setor de infraestrutura reduziram o ritmo de queda. No ano até setembro, caíram 4%, contra -22% até junho.