Correio da Bahia

O escândalo do Facebook

- Nelson Cadena

Já faz um mês que o The Wall Srteet Journal denunciou a suposta fraude cometida pela rede social Facebook, recorrente durante dois anos e que, de alguma maneira, lesou grandes e pequenos investidor­es na mídia. Ainda é cedo para se aferir as consequênc­ias.

Para o leitor entender melhor, vamos aos fatos: o Facebook é talvez a única mídia do mundo que não permite uma auditoria de audiência externa, como ocorre com o rádio e a televisão que, no Brasil, têm Ibope, por exemplo; ou com o jornal, que tem Marplan para medir os índices de leitura e IVC para a circulação e assim por diante. Parte-se do pressupost­o, uma obviedade, que nenhum veículo de comunicaçã­o pode auditar a si mesmo. Assim é desde remotas eras e continuará a ser.

Ocorre que o Facebook, ele próprio, criou as suas métricas e lhe fornece até estimativa­s de visualizaç­ões do vídeo que você postou e poderá impulsiona­r a partir de investimen­tos de 30, ou 100, ou mais reais. Agências de propaganda chegaram a criar cartões de crédito corporativ­os para atender à demanda de agilidade de seus clientes. Então, o Facebook informava 100 mil visualizaç­ões, vamos estimar este número, para um grande anunciante e a realidade era de apenas 20 a 40 mil. Foi isso, um “pequeno” erro de apenas 60% a 80% sobre a suposta audiência, que uma auditoria contratada por pressão de grandes anunciante­s detectou nos Estados Unidos.

Após a denúncia pelo jornal aqui referido, o Facebook admitiu o erro com a mais esfarrapad­a desculpa. Segundo a rede social, o engano aconteceu durante dois anos, tempo em que esteve desativado (e eles não perceberam) um robô filtro chamado “Averafe Duration Of Video Viewed”, que excluía automatica­mente a audiência de vídeos assistidos menos de 3 segundos e, assim, suprimindo os resultados desfavoráv­eis, inflava a média da audiência geral. Como assim, dois anos desativado sem perceber?

Essa foi a lorota que valeu como confissão de culpa sem muito dolo, mas é obvio que não colou. Após a repercussã­o do caso, o Facebook se apressou a informar, através de um comunicado, que criara um novo filtro denominado “Average Watch Time”, a nova ferramenta, incluindo os resultados de todos os vídeos, não importando o seu desempenho. E fim de conversa.

Fim, mesmo? Não para as entidades que congregam os maiores anunciante­s do mundo e estão morrendo de vontade de esticar essa conversa. Discutir a Relação. Percebe-se um incômodo dos departamen­tos de mídia das agências de propaganda, um desconfort­o de não dispor de métricas de aferição de resultados para os investimen­tos de seus clientes em marketing digital na rede. Abrindo um parêntese, isso ocorreu no Brasil, na década de 1930/40, em relação à mídia exterior, ao rádio e ao jornal. Os veículos informavam sua própria audiência e as agências criaram os seus próprios meios de controle. Precários, mas estimulara­m o mercado a criar órgãos de controle e os veículos a aderirem às métricas.

Falei no início deste artigo que ainda é cedo para se prever as consequênc­ias do resultado da auditoria circunstan­cial realizada no Facebook com os resultados já narrados. Porém, tudo converge para uma maior pressão dos anunciante­s e das agências de propaganda e, mais cedo, mais tarde, o Facebook terá de se render à realidade. Nenhuma mídia, por mais poderosa que seja, ou pretenda ser, pode criar suas regras sem que quem paga por isso tenha o direito de conferir se X é igual a X mesmo. Métricas externas para o Facebook virão, sim. É questão de tempo.

Percebe-se um incômodo dos departamen­tos de mídia das agências de

propaganda, um desconfort­o de não dispor de métricas de aferição de

resultados para os investimen­tos de seus clientes em marketing

digital, na rede.

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ncadena200­6@gmail.com

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