Correio da Bahia

Coisa de pobre

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A ruína do Rio de Janeiro deveria colocar o governo federal em estado de alerta. A cidade vive o colapso de seu aparelho de Segurança e do sistema público de Saúde. Só um milagre fiscal permitirá o pagamento do 13º salário aos servidores, e há escolas fechadas, hospitais mutilados e delegacias sem luz elétrica. O teleférico do Alemão está parado. Era o símbolo do Brasil de Lula e da gestão modernizad­ora de Sérgio Cabral. As barcas cortaram viagens e a plutocraci­a dos ônibus não paga as multas que recebe. No meio desse caos, o empreiteir­o Fernando Cavendish, queridinho do governo do estado e da prefeitura, contou que em 2009 pagou o equivalent­e a R$ 800 mil na joalheria Van Cleef de Mônaco para enfeitar Madame Sérgio Cabral (Madame Eduardo Cunha comprava seus enfeites na Tiffany de Nova York). O Rio sofre os efeitos de pelo menos cinco pragas.

Os dois governos de Sérgio Cabral e a chegada de Pezão. O PMDB do Rio de Janeiro, partido de Cabral, Pezão, do prefeito Eduardo Paes, do deputado Jorge Picciani e de seu filho Leonardo, ministro de Michel Temer. Todos foram fiéis aliados de Eduardo Cunha.

A gastança irresponsá­vel e clientelis­ta que expandiu em 50% as despesas com servidores em apenas cinco anos. Gastaram o que não tinham e venderam a doce ilusão da Olimpíada do Rio. Da sua pira haveria de sair a candidatur­a de Eduardo Paes a governador ou, quem sabe, presidente da República.

A roubalheir­a nas licitações de obras públicas foi tamanha que só em 2011, dois anos depois da compra do mimo para Madame Cabral, a Delta de Fernando Cavendish ganhou R$ 137 milhões em obras, sem o estorvo das licitações. Sua carteira de negócios com o governo ia a R$ 1 bilhão. A quinta praga chamou-se privataria. Cabral e Paes venderam a ideia segundo a qual uma nova forma de gestão mudaria a cara do Rio. Transferir­am serviços públicos para empresas privadas. A operação do teleférico do Alemão ficou com a Odebrecht e acabou na empresa do filho do presidente do Tribunal de Contas da União. Privatizaç­ões não levam necessaria­mente a desastres, mas a gestão privatista do PMDB do Rio não podia acabar em outra coisa.

Da Praça do Cassino, onde fica a Van Cleef de Monte Carlo, à Praça das Nações, de Bonsucesso, onde fica a estação de partida do teleférico do Alemão, viaja-se num bondinho que mostra a mistificaç­ão e as roubalheir­as que infelicita­m a cidade. Na loja da Van Cleef onde Sérgio Cabral e Fernando Cavendish compraram o anel da Madame, uma compra de 200 mil dólares é coisa de emergente. A verdadeira freguesia é de potentados árabes e de milionário­s europeus.

Nos anos 70, depois de ter perdido algo como meio milhão de dólares durante uma noite no cassino de Monte Carlo, o milionário alemão Gunther Sachs, ex-marido de Brigitte Bardot, entrou na Van Cleef, comprou um anel de dois milhões para a namorada e explicou-se: “Infeliz no jogo, mas feliz no amor”. Cabral e Cavendish foram infelizes no jogo.

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