Um artista
Mostras e livro traçam panorama da carreira de César Romero
Aos 16 anos de idade, o baiano César Romero participou de um concurso de artes plásticas entre estudantes. Numa tela, pintou uma casa amarela, uma outra azul e uma igreja vermelha. “Onde já se viu uma igreja vermelha?! Isso tá parecendo o Corpo de Bombeiros”, disse um colega.
Aflito com a advertência, o artista iniciante correu para mudar a cor da igreja, que ganhou algumas pinceladas de tinta branca. Na pressa, antes mesmo de o material secar, enrolou a tela num papel.
Quando tirou o papel, metade da tinta havia se desprendido. O inexperiente pintor levou um susto e teve convicção de que suas chances de ganhar o prêmio já haviam acabado. Para sua própria surpresa, poucos dias depois, lá estava o jovem Romero ao lado do então governador da Bahia Luís Viana Filho para receber a láurea.
PREMIAÇÃO
“Considero esse o marco inicial da minha carreira, afinal, o júri desse concurso era muito qualificado, formado por Juarez Paraíso, Wilson Rocha e Mercedes Kruschewsky”, lembra-se o artista, que é também crítico de arte do CORREIO.
César se prepara para celebrar seus 50 anos de carreira, com duas exposições e o lançamento do livro A Brasilidade na Pintura de César Romero, da crítica Mirian de Carvalho. No dia 9 de novembro, a publicação estará disponível no site www.cesarromero.art.br.
A primeira exposição, César Romero - 50 Anos: um Resumo, na Caixa Cultural (Rua Carlos Gomes), será aberta amanhã e fica até o dia 27 de novembro. A segunda, no Museu de Arte da Bahia (Corredor da Vitória), César Romero Trabalhos Sobre Papel, fica em cartaz de 9 a 30 de novembro.
Os trabalhos expostos na Caixa Cultural integram diversas fases da carreira, incluindo telas, totens e gravu- ras. É ali que estarão as famosas faixas emblemáticas, como as que ilustram a principal foto desta matéria. Aquela criação, que se tornou uma espécie de assinatura de César, surgiu quase por acaso, como lembra o próprio artista.
Nos anos 1980, ele foi à Lagoa do Abaeté, onde viu algumas lavadeiras trabalhando. “Elas estavam lavando roupas e havia algumas colchas de retalhos no varal, que balançavam com o vento. As colchas balançavam e aquela imagem expressava sensualidade. Eu fotografei e depois resolvi pintar”, lembra-se César.
As colchas que inspiraram as pinturas são apenas um dos diversos elementos nordestinos que guiam as criações de César, que, em seus trabalhos, faz questão de lembrar suas origens. O artesanato popular, a cestaria e a religiosidade local são outras influências na obra do artista plástico.
“A temática de César é fortemente popular e ele se assu-