REDESCUBRA A CIDADE
juntar as duas porque é interessante ver esse patrimônio. É um testemunho da decadência, mas também adoro. Acho muito artístico e tento fazer o mais bonito que posso”, conta o fotógrafo Jean-François.
Para o curador da mostra, o francês Marc Pottier, 59, Hiperfoto-Salvador está longe de querer traduzir uma verdade. “O poder dessa exposição é não ter nenhuma pretensão de dizer ‘isso é a sua cidade’ e, sim, dizer ‘isso é a energia que recebi da sua cidade e quero mostrar para vocês’”, destaca Pottier, que já trabalhou como curador convidado da 3ª Bienal da Bahia.
PATRIMÔNIO
Inspirado em movimentos artísticos como cubismo, surrealismo e barroco, JeanFrançois tenta traduzir em suas fotos a sensação tridimensional que experimenta em cada visita à cidade. O fotógrafo acredita que uma só imagem não corresponde ao real. Para entender melhor, vale destacar uma das obras da exposição: o pentáptico de 7,5 metros da Igreja de São Franciso, composto por cinco painéis que demoraram cerca de um mês para ficarem prontos.
Com sua lente Nikon 105 macro, Jean-François clicou vários pedaços da Igreja feita de ouro, como se fossem pequenos quadradinhos separados, que depois foram montados no computador. Diante do quebra-cabeça completo, a sensação de quem observa a obra de 2,41m x 1,5m é de estar dentro da Igreja de São Francisco.
Mas longe de querer traduzir o real puro e simples, as fotos de Jean-François carregam uma subjetividade e sempre dialogam referências. Assim, o fotógrafo inseriu elementos de outras fotos no registro da Igreja de São Francisco, como os orixás feitos por Carybé no painel de madeira que faz parte do acervo do Museu Afro-Brasileiro.
“Minha motivação é testemunhar e é isso que acho incrível na fotografia. Há 20 anos, percebi que temos um fabuloso patrimônio em todos os lugares do mundo, especialmente o religioso. É muito bom poder mostrar como somos ricos de patrimônio religioso”, acredita Jean-François que, ao percorrer Salvador, foi “imediatamente capturado por sua atmosfera mística, suas inúmeras igrejas e seus terreiros”.
Inclusive, durante sua estada no Hotel Villa Bahia, um casarão do século XVII, JeanFrançois descobriu dentro do hotel uma mikvé, construção antiga do banho judaico utilizado nos rituais de purificação. “A homenagem, o recado que ele está dando nessa exposição é parabéns para as pessoas de Salvador por seu sincretismo. ‘Olha, se hoje tenho a capacidade de reunir uma imagem com tantos elementos, significa que isso existe’. Ele não está inventando. Ele tem esse contato espiritual de sentir os lugares, mesmo sem conhecer, mas a realidade da cidade está aqui”, comenta o curador.
Diante do mundo intolerante no qual vivemos, Jean-François destaca que às vezes é difícil se adaptar à difícil realidade “e a arte é o melhor caminho”. “É uma terapia, um caminho de ser otimista e de ver beleza em qualquer lugar, de mudar o mundo”, sorri o fotógrafo.
Exposição Hiperfoto-Salvador
Artista Fotógrafo francês Jean-François Rauzier
Onde Museu de Arte Moderna da Bahia (Av. Contorno, s/n, Solar do Unhão | 3117-6139) Quando Abertura quinta, às 18h. Visitação: de terça a domingo, das 13h às 18h, até 29 de janeiro de 2017
Entrada Gratuita