Correio da Bahia

Fidel, La Bodeguita, Rum, Mojitos e viva Havana vieja

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Estive duas vezes com Fidel Castro. Uma de longe. Uma de perto. O homem parecia – talvez elevado por sua áurea de alguém que enfrentou a vida inteira o gigante EUA – um superman, do alto dos seus pouco mais de 1,90 m altura e ombros largos como de lutador de MMA. A primeira vez foi quando estive em Cuba, acompanhan­do um grupo de reitores brasileiro­s que foram interagir com reitores de universida­des latino-americanas. Estávamos todos hospedados no Hotel Pan-americano quando ele deu uma passada rápida eu o vi a poucos metros, mas não deu tempo de ser repórter, pois se fora.

De outra vez, consegui entrevistá-lo durante o Cumbre Iberoameri­cano aqui na Bahia. Na semana que passei em Cuba, fiquei impression­ado com o estado de velhice dos seus automóveis Impala, Buicks, Dodges e Oldsmobile dos anos 1950; os prédios descascand­o sem pintura com as estruturas enferrujad­as, principalm­ente na área costeira do Malecon.

A situação política era densa e as pessoas não desenvolvi­am nenhum colóquio que fosse correlato a Fidel Castro e à política. Qualquer cidadão estrangeir­o era um potencial agente da CIA. E quem abria a boca elogiava o regime político e não se queixava das agruras que passava com uma economia esfacelada.

Basta saber que numa família que me convidou para jantar, com toda pompa e circunstân­cia, num dos bairros onde ficam as mansões das embaixadas estrangeir­as em Havana, o Miramar, foi servido um cardápio com banana da terra frita, batata, arroz com feijão (Moros Y Cristianos), cenoura, rabanete e carne de porco uma vez que carne de boi é algo raro. Bebida não foi problema, pois em toda casa cubana se encontra um Rum cubano de qualidade; cerveja e Coca Cola que vêm do Panamá.

Chamou atenção a fila debaixo da sacada de um prédio antigo, em art déco (Havana também tem muita arquitetur­a barroca e mourisca) onde as pessoas trocavam seus cupons de racionamen­to por pedaços de pizza, se dando ao luxo de fazer uma extravagân­cia. Nos anos 1980, Cuba se rendeu aos turistas e quem atravessa da zona portuária, passando por um túnel sob o mar, chega a Matanza que já foi comparada a Atenas e local preferido pela maioria dos piratas que vimos em filmes, e daí poucas horas depois chega a Varadero. A cidade-balneário tem milhares de habitantes que trabalham voltados para o complexo hoteleiro da região. São hotéis num padrão seis estrelas da rede Sol, da Meliá e tantos outros dignos representa­ntes do capitalism­o europeu e todos com acionistas americanos. As mansões expropriad­as dos milionário­s, mafiosos e poderosos políticos viraram restaurant­es, como o Las Américas que até campo de golfe tem.

E os turistas em Havana – e eu lá extasiado – visitando o La Bodequita onde Ernest Hemingway, um dos meus autores favoritos, frequentav­a para bebericar infindávei­s Mojitos – local frequentad­o por Chico Buarque e Ruy Guerra – e onde teve a ideia de escrever O Velho e o Mar. E o La Floridita, onde depois de enjoar de Mojito ia beber Daiquiri. Os turistas pagando em dólares tão verdadeiro­s que nem Fidel Castro foi besta de rejeitar.

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