Correio da Bahia

Héloa, uma boa surpresa musical made in Aracaju

- Hagamenon Brito hagamenon.brito@redebahia.com.br

No vasto oceano das vozes femininas da MPB contemporâ­nea, tem que haver um lugar confortáve­l para a cantora sergipana Héloa, 27 anos, que estreia com o álbum Eu (Campuci Roots/YB Music), três anos após o EP Solta. E não apenas pela voz, suave e naturalmen­te sensual, mas pelo conjunto da obra.

Produzido com competentê­ncia por Daniel Groove (autor de três canções do repertório) e João Vasconcelo­s, o álbum apresenta uma artista com uma qualidade pouco comum entre estreantes: Héloa não se parece com ninguém já estabeleci­do na música brasileira.

Filha do músico Jorge Ducci e da antropólog­a Martha Sales, Héloa iniciou-se nas artes estudando teatro e canto lírico aos 14 anos. Ao mesmo tempo em que ouvia a MPB de Alceu Valença, Zé Ramalho e Gal Costa, ela mergulhava direto na fonte da tradição por conta de sua avó, que adorava ouvir Dalva de Oliveira, Elizeth Cardoso e Maysa.

Com experiênci­a como atriz teatral, Héloa formou-se em Artes Visuais antes de dedicar-se totalmente à música, quando já ouvia vozes femininas da nova geração - entre elas, Céu, Mariana Aydar, Andréia Dias e Tulipa Ruiz.

“É engraçado agora eu aparecer em matérias ao lado dessas cantoras, porque essa geração me influencio­u muito”, afirma Héloa, que reside em São Paulo desde agosto do ano passado.

AUTOBIOGRÁ­FICO

Apesar de assinar apenas uma faixa do disco, A Avenida (em parceria com o baiano Eduardo Escariz), Héloa transforma Eu num trabalho autobiográ­fico, com canções que traduzem a chegada de uma viajante nordestina a uma grande metrópole.

As faixas 4 e 5 explicitam isso: Caravana (1975), de Geraldo Azevedo e Alceu Valença, que fala em “corra, não pare, não pense demais/ Repare essas velas no cais/ Que a vida é cigana/ É caravana”; e a já citada A Avenida: “A avenida e esses carros que transitam entre sinais/ A minha vida é um coração em busca de um cais”.

“Se pudesse, eu não saía de Aracaju, e é por isso que eu estou sempre retornando para lá, porque minha casa é minha referência e construção história, mas entendo que São Paulo é importante para meu cresciment­o. É uma cidade que tem gente de todo lugar e onde podemos criar mais contatos, falar sobre projetos, produção fonográfic­a. O disco traduz isso, essa chegada, novos contatos, adaptação”, conta.

De guitarras roqueiras ao romantismo popular, a cantora também fascina na ótima releitura de Crua, de Otto, músico que ela ouvia na adolescênc­ia e de quem tornou-se amiga. “Ele sempre foi uma inspiração para mim”, diz a bonita artista que abre o disco pedindo proteção para a sua jornada. Axé, Héloa.

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