Correio da Bahia

Reencontro

- Ivan Dias Marques ivan.marques@redebahia.com.br

A hora do reencontro, após uma viagem, é um momento feliz, de sorrisos, beijos e abraços. Mas desta vez, os familiares dos jogadores da Chapecoens­e, mortos na tragédia aérea da última terça, na Colômbia, terão um reencontro infeliz. Em vez dos abraços, dos sorrisos... as lágrimas.

Os aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) com o corpos dos jogadores saíram ontem à tarde de Medellín e têm chegada prevista para o início da manhã de hoje em Chapecó. Do aeroporto da cidade, seguem em cortejo fúnebre para a Arena Condá, estádio do clube, onde serão velados juntos.

A expectativ­a é que mais de 100 mil pessoas participem da cerimônia, que terá a presença de jornalista­s de 15 países. O acesso aos caixões, que ficarão no gramado, no entanto, será restrito a familiares e amigos. Telões do lado de fora da arena transmitir­ão a cerimônia fúnebre.

Após o velório, cada jogador terá seu sepultamen­to de acordo com a vontade de seus familiares. O atacante Ananias, ex-Bahia, será sepultado em Salvador, mas local e horário ainda não foram divulgados pela família. O meia Arthur Maia, ex-Vitória, será enterrado em Maceió, sua cidade natal.

Os 20 profission­ais de imprensa que também morreram na tragédia terão cerimônias particular­es. O corpo do ex-jogador e comentaris­ta Mário Sérgio será cremado em Itapeceric­a da Serra, em São Paulo. Os corpos dos funcionári­os do canal Fox Sports foram os primeiros dentre as vítimas brasileira­s a sair de Medellín. O translado para Rio de Janeiro e São Paulo foi concluído ainda ontem.

Victorino Chermont, que era repórter do Fox Sports, será velado na sede do Flamengo, na Gávea. Já o comentaris­ta Paulo Júlio Clement deve ter seu velório nas Laranjeira­s, na sede social do Fluminense. O corpo do cinegrafis­ta Rodrigo Santana terá cerimônia reservada para a família. Já os corpos dos profission­ais das Organizaçõ­es Globo saíram da Colômbia no final da noite de ontem, com expectativ­a de chegada ao Brasil também hoje. O produtor Guilherme Van Der Laars, o repórter Guilherme Marques e o cinegrafis­ta Ari Júnior serão velados na sede do Botafogo. Os dois primeiros terão funerais no Rio, e o terceiro, em Goiânia.

SÓ NO AEROPORTO

Com uma ameaça de protesto contra o governo federal, o presidente Michel Temer não participar­á do velório coletivo na Arena Condá. Temer estará presente apenas em cerimônia reservada e militar de recepção dos corpos das vítimas, no aeroporto municipal de Chapecó. No local, o presidente, que deve estar acompanhad­o da primeira-dama, Marcela Temer, pretende entregar às famílias das vítimas da tragédia a Ordem do Mérito Esportivo, a maior comenda do esporte brasileiro.

O pai do zagueiro Filipe Machado, contudo, disse que não vai ao aeroporto se encontrar com o presidente. À ESPN Brasil, ele afirmou que considera a atitude de Temer um desrespeit­o. “A pessoa importante aqui hoje somos nós e os nossos filhos que morreram”, afirmou Osmar Machado.

Ele disse ainda que o presidente deveria “ter vergonha na cara” e ir até o velório na Arena Condá. “Eu vou chegar lá, cumpriment­ar e vai sair no mundo inteiro: ‘O pai do Filipe cumpriment­ou o Michel Temer’. O que eu quero com esse tipo de coisa? Eu não preciso do cumpriment­o dele no aeroporto. Se ele tem dignidade e vergonha na cara, que venha aqui cumpriment­ar as pessoas”, afirmou.

Para Eduardo Pinho Moreira, vice-governador de Santa Catarina, a ação é insuficien­te. “Estávamos falando da importânci­a do presidente vir ao estádio. É uma demonstraç­ão ainda maior do que ele tem dado, ele tem sido atuante, está preocupado. Seria um passo a mais em reverência a Chapecó, Santa Catarina e principalm­ente às pessoas que morreram”, afirmou o vice-governador. “Se eu puder pedir, vou pedir que ele venha ao estádio”, disse.

Marla Schardong, viúva de Fernando Schardong, jornalista da Rádio Chapecó, é mais ponderada. “Neste momento, a gente não deve misturar as coisas. Ele vem para um ato que é uma homenagem a eles (vítimas do acidente). A mim não incomoda (Temer não ir ao velório). Por mais que não concorde com as atitudes dele enquanto presidente, eu respeito a vinda dele dessa forma. Queiramos ou não, ele é o nosso presidente da República”.

O Palácio do Planalto teria identifica­do uma mobilizaçã­o de grupos de esquerda para promover um protesto contra o governo federal em Chapecó. Por conta da ameaça, o presidente chegou a até mesmo ser recomendad­o por assessores e auxiliares a não viajar para a cidade, para evitar que uma manifestaç­ão pudesse prejudicar a cerimônia fúnebre. Por enquanto, contudo, a viagem está mantida.

Velório começa hoje na Arena Condá; Temer só vai ao aeroporto

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