Correio da Bahia

Adeus ao menino de ouro

- Moysés Suzart moyses.suzart@redebahia.com.br

No cantinho da Capela H do cemitério Jardim da Saudade, um jovem magro chora copiosamen­te no velório do jogador Ananias, em Salvador. Alguns atletas que chegam, o abraçam como se ele fosse um membro da família. E era. Julio César foi o primeiro amigo de Ananias nos tempos da base do Bahia. “Dividíamos o alojamento e, como não tínhamos condições, dividíamos até nossas roupas”, lembra Julio, que fazia dupla com Ananias na bela campanha do Bahia na Copa São Paulo de 2007.

Graças a viúva do jogador do Bahia, Julio pôde dar seu último adeus. Atualmente, ele está sem clube e mora em Fortaleza. Sem condições, os familiares de Ananias custearam sua vinda a Salvador.

Assim como o amigo, o último adeus a Ananias foi marcado pelo encontro emocionado de atletas que conviveram com ele nos tempos de Bahia, da base até o profission­al. Rogério, Marcone, Danilo Rios, Ávine, Vander e Omar, entre outros atletas e dirigentes, foram prestar a última homenagem ao meia conhecido por todos como um menino de ouro.

“Ananias estava organizand­o um baba no final do ano pra reunir toda aquela turma do Bahia. Agora vejo a gente reunido aqui neste momento de profunda tristeza. Estou num pesadelo. Todos nós estamos”, disse Rogério, que estava no Bahia quando Ananias começava no profission­al.

Atual técnico do sub20 do Bahia, Aroldo Moreira ainda se diz chocado. “Era um moleque quando conheci. Uma crianca. Fui um dos primeiros técnicos dele e desde pequeno era uma pessoa fantástica. Um ser iluminado. Perdi um dos meus filhos”, disse o treinador. Ricardo Silva, técnico de Ananias no Bahia de 2007, além do ex-diretor da base tricolor, Newton Mota, também estiveram presentes.

“Tanta gente ruim para morrer e a gente perde uma alma dessas? Grandioso, de um caráter fantástico. O Vitória tentou trazê-lo naquela transição com Leandro Domingues. Escolheram Domingues, mas sabiam que Ananias era um jogador brilhante que poderia ajudar o clube. Perdemos uma estrela no campo e fora dele”, desabafa Mota.

Muito emocionada, a viúva de Ananias, Bárbara, falou com todos. O filho do casal, Enzo, de 5 anos, além da mãe do atleta, Rosa Lia, que chega- ria a Salvador na noite de ontem, não estiveram ao velório. Hoje, na cremação, apenas familiares e amigos próximos terão acesso.

O presidente do Bahia, Marcelo Sant’Ana represento­u o clube. Apesar da ajuda oferecida pelo tricolor, com custos da cremação e oferecimen­to do Fazendão para o velório, os familiares pediram apenas uma bandeira do clube.

Enquanto o velório chegava ao fim, poucas pessoas ficaram na capela. Julio Cesar era uma delas. “Algumas pessoas me reconhecer­am e até me ofereceram ajuda para conseguir um clube. Deve ser meu anjo Ananias já interceden­do pela minha família”, disse.

Emocionado­s, família e amigos se despedem do meia Ananias

 ??  ?? Bárbara, viúva de Ananias, em momento da despedida do jogador da Chapecoens­e. Caixão foi coberto com camisa do clube catarinens­e e do Bahia, onde o meia-atacante foi revelado
Bárbara, viúva de Ananias, em momento da despedida do jogador da Chapecoens­e. Caixão foi coberto com camisa do clube catarinens­e e do Bahia, onde o meia-atacante foi revelado

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