Correio da Bahia

24h Mocotó abençoado

- THAIS BORGES

Bucho, calabresa, charque, alho, limão, hortelã, salsa, coentro, cebola... E o principal: pata de boi. A receita de um dos mais tradiciona­is pratos nordestino­s tomou proporções um tanto fora do comum, ontem, no IAPI. O Mocotó do Padre, evento promovido pela Paróquia São Paulo Apóstolo, no fim de linha do bairro, preparou cerca de uma tonelada de carne para atender a cerca de três mil pessoas, ao longo de todo o dia.

O “padre” que dá nome à festa é o padre Valson Sandes, que há dez anos atua na paróquia do IAPI. Nove anos atrás, foi dele a ideia de montar uma espécie de quermesse na comunidade. “Fizemos, naquele período, para 150 pessoas. O mocotó foi o primeiro prato que vendeu, então a gente entendeu que o caminho era por ali”, lembra ele.

Desde então, o Mocotó do Padre é sempre no mês de janeiro, antes do dia 25, quando é celebrado o dia de São Paulo, padroeiro da igreja. E o público só aumenta: passou de 2,5 mil pessoas no ano passado para três mil nesta edição. Segundo padre Valson, vem gente até de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Sergipe, além de outras cidades da Bahia, como Feira de Santana, Conceição do Coité e Valença.

“O objetivo é congregar os fiéis por conta da festa de São Paulo. A gente arrecada os fundos para custear a festa e a reforma da Igreja Matriz, que precisa trocar o telhado, que é de telha de amianto. Os fiéis estão todos trabalhand­o voluntaria­mente. E todos estão pagando para comer, inclusive os voluntário­s”, diz.

A receita é do próprio padre Valson. Foi com ela, inclusive, que ele venceu o concurso do quadro Panela de Bairro, da TV Bahia, em outubro passado. Por isso, também é ele o primeiro a experiment­ar o prato – para garantir que tudo está do jeito certo.

Ao todo, mais de 300 pessoas se envolvem no processo, que começou ainda na segunda-feira (9). Anteontem, um grupo virou a noite colocando panelas no fogo. A dona de casa Nice Dantas, 60 anos, estava desde segunda-feira limpando panelas e o mocotó. Só deu uma pausa no sábado porque era o casamento da filha. Mesmo assim, às 6h de ontem, já tinha voltado à igreja para retomar o trabalho.

“A comunidade chega junto. É muito importante porque estamos trabalhand­o para Deus, para a paróquia. Não é para o padre Valson, mas para a paróquia crescer. Eu trabalho com muito amor e carinho”, conta Nice, que frequenta a paróquia há 38 anos. O professor de Biologia Gelton Cirino, 41, também é um dos que estava na linha de frente do trabalho. “Hoje (ontem), estou com o pirão, mas responsáve­l pela cozinha. Estou aqui desde 4h da manhã, mas é muito divertido. Quando a gente vê, o cansaço já passou”.

Os membros da paróquia costumam comparecer em peso. A técnica de laboratóri­o Denise Gonzaga, 47, vai todos os anos com a família. “É um dia muito especial. A gente ajuda nosso padre e o mocotó dele é muito bom. Tempero, gordura, sal, tudo é na medida certa. Quem tem pressão alta pode comer tranquilo”.

Já a dona de casa Raimunda Costa, 51, foi com o marido, Jorge Sobrinho, 52, experiment­ar pela primeira vez, depois de assistir à reportagem do quadro Panela de Bairro com o padre Valson. “Fiquei curiosa e vim. É muito bem organizado e o sabor é maravilhos­o. Conheço sabores de comida e esse aqui está da melhor qualidade”, comentou. Para ajudar a digerir o mocotó, que saiu a R$ 25 a porção, a turma caiu na dança com o forrozeiro Del Feliz.

 ??  ?? Padre Valson Sandes com seu famoso mocotó: festa que ocorre há nove anos é para obras da igreja no IAPI
Padre Valson Sandes com seu famoso mocotó: festa que ocorre há nove anos é para obras da igreja no IAPI

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil