Correio da Bahia

24h Cabula: MP e Defensoria pedem continuida­de do processo

- BRUNO WENDEL E JULIANA MONTANHA

AUDIÊNCIA A voz e as mãos tremiam. As lágrimas corriam sem parar. “Com ele se foi um pedação de mim”, desabafou uma mulher. Parente de Evson Pereira dos Santos, 26 anos, um dos 12 mortos na ação da Vila Moisés, no Cabula, em 2015, foi uma das que foram à audiência pública realizada ontem, para discutir a federaliza­ção do caso – a possibilid­ade de uma nova investigaç­ão, mas realizada no âmbito federal. Nove policiais militares foram absolvidos e, em junho do ano passado, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu ao presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Francisco Falcão, que a Justiça Federal investigue as mortes. “A dor é imensa, difícil de mensurar. Sonho com ele todos os dias. Todo mundo sente a falta do sorriso de Evson. Era muito brincalhão. Ele deixou um cachorro que até hoje espera por ele. Chora pelos quatro cantos”, disse a familiar, que não se identifico­u. “Vem aí uma lembrança dolorosa. Dia 14, Semana Santa, ele faria 28 anos. É muito difícil. Até hoje não acredito que ele não está entre nós”, complement­a. O sofrimento também faz parte do dia a dia dos familiares de Caique Bastos dos Santos, 16, um dos mortos. “Eu pesava 81 kg, hoje tenho 52 kg. Estou com depressão, fazendo tratamento com um psicólogo. Sofro por não ter conseguido fazer nada. Escutei ele pedindo socorro e, quando abri a porta, a casa estava rodeada de policiais e não o vi mais”, disse a mulher. A audiência começou por volta das 9h e durou cerca de três horas e meia. “Essa audiência é importante por três pontos: o primeiro é uma forma de mostrar a inércia do estado em relação ao caso, para mostrar às famílias das vítimas que elas não estão sozinhas e, por fim, para que o Estado repense essas matanças daqui para frente porque estamos de olho”, declarou o presidente do Grupo Reaja ou Será Morto, Reaja ou Será Morta, Hamilton Borges. Na página do Facebook, a ONG traz vídeos com depoimento­s de militantes de movimentos sociais e acadêmicos se posicionan­do a favor da federaliza­ção do processo. Enquanto não há um parecer sobre a mudança de competênci­a de investigaç­ão, o Ministério Público Estadual e a Defensoria Pública pediram a continuida­de do processo ao Tribunal de Justiça (TJ-BA). O CORREIO procurou o TJ e os Ministério­s Públicos Estadual e Federal para comentar o caso. Por meio de sua assessoria, o MPE informou que se posicionou perante o Superior Tribunal de Justiça (STJ) sobre o pedido e irá aguardar retorno antes de se pronunciar a respeito. Já o TJ e o Ministério Público Federal não comentaram o caso. Segundo o STJ, o deslocamen­to de competênci­a para a Justiça Federal pode ser solicitado nas hipóteses de grave violação de direitos humanos. No caso da operação policial na Vila Moisés, o STJ informou que o relator é o ministro Reynaldo Soares da Fonseca e que o processo está em fase de análise de informaçõe­s, “a fim de que possa ser instruído”.

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O presidente do Grupo Reaja, Hamilton Borges, discursa, com o painel de uma das vítimas da ação ao fundo

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