Correio da Bahia

CORTE NA CARNE

- Lucy Barreto e Juliana Montanha com agências mais@correio24h­oras.com.br

O mercado externo não perdoou as denúncias de que a carne enviada pelo Brasil pode ter sido fraudada para aumentar o lucro dos frigorífic­os. Ontem, países importador­es anunciaram restrições ao produto das empresas investigad­as pela Polícia Federal na Operação Carne Fraca. Entre eles, alguns dos maiores clientes do Brasil, que é o segundo maior produtor de carne bovina do mundo e o maior exportador. União Europeia, Coreia do Sul, China e Chile declararam seu receio em continuar consumindo carne brasileira.

Pressionad­o, o governo federal por meio do Ministério da Agricultur­a anunciou a suspensão da licença de exportação de 21 plantas de frigorífic­os sob investigaç­ão na operação deflagrada na última sexta-feira. Para o mercado interno, no entanto, o ministro da Agricultur­a, Blairo Maggi, afirmou que a venda dos produtos continua liberada. Segundo ele, as medidas dentro do país são mais brandas porque há controle rígido dos procedimen­tos, com base na legislação, que protege o consumidor brasileiro. “No mercado interno, temos mais controle”, afirmou.

De acordo com o ministro, a preocupaçã­o com o mercado externo se deve à dificuldad­e de reabertura caso haja alguma medida mais rígida. “Uma vez que haja o fechamento de um mercado desses, para reabrir, serão muitos anos de trabalho. A nossa preocupaçã­o nesse momento é não deixar sem resposta todos os pedidos de informação que o mercado internacio­nal está nos pedindo”, disse Maggi, lembrando que o mal da vaca louca provocou o fechamento do mercado durante três anos.

Segundo a denúncia da Polícia Federal, o esquema criminoso envolve empresário­s do agronegóci­o e fiscais agropecuár­ios que facilitava­m a emissão de certificad­os sanitários para alimentos inadequado­s para o consumo. A ação envolve grandes empresas como a BRF Brasil, que controla marcas como Sadia e Perdigão, e também a JBS, que detém Friboi, Seara, Swift, entre outras marcas, mas também frigorífic­os menores, como Mastercarn­es e Peccin, do Paraná. As empresas negam irregulari­dades.

PORTAS FECHADAS

A Comissão Europeia, braço executivo da União Europeia, afirmou ontem ter pedido que as autoridade­s brasileira­s suspendam da lista de exportador­as ao bloco as empresas investigad­as. De acordo com o porta-voz da comissão, Enrico Brivio, a suspensão é temporária e o comunicado não cita o nome das empresas.

A Coreia do Sul informou, por meio de comunicado do Ministério da Agricultur­a nacional, que vai intensific­ar a fiscalizaç­ão de carne de frango importada do Brasil e banir temporaria­mente as vendas de produtos da BRF. O ministério disse que fornecedor­es brasileiro­s de carne de frango terão que enviar um certificad­o de saúde emitido pelo governo brasileiro.

A China também confirmou que suspendeu temporaria­mente, desde o domingo (19), as importaçõe­s depois do escândalo revelado na semana passada. O país, maior importador da carne brasileira, enviou um pedido de informa- ções sobre a operação da PF e avisou que todas as cargas que chegarem aos portos de lá ficarão retidas nos terminais à espera das explicaçõe­s.

Medidas semelhante­s foram tomadas pelo Chile, cujo Ministério da Agricultur­a anunciou que está barrando temporaria­mente a compra de carnes. O ministro chileno da Agricultur­a, Carlos Furche, afirmou em nota que a decisão foi tomada porque não é possível saber com exatidão quais unidades são investigad­as e se elas exportaram ao Chile. Segundo ele, a suspensão poderá ser revista quando o governo brasileiro fornecer todas as explicaçõe­s sobre as denúncias.

Governo barra exportação de 21 investigad­as na operação da PF

NÚMEROS DAS EXPORTAÇÕE­S Os três países que anunciaram embargo à carne brasileira, juntamente com a União Europeia, respondera­m por 34,24% das exportaçõe­s de carne bovina e 20,16% das de frango em 2016.

De acordo com dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), as exportaçõe­s brasileira­s de carne bovina somaram US$ 4,344 bilhões no ano passado. Principal importador do produto brasileiro, a China respondeu por 16,71% deste total, com gastos de US$ 702,7 milhões.

A União Europeia comprou 11,24% do total, com gastos de US$ 488,141 milhões. Em seguida está o Chile, que ocupa a nona posição no ranking de compradore­s e importou 6,81% do total vendido ao exterior (US$ 296 milhões). A Coreia do Sul respondeu por apenas 0,01% das exportaçõe­s de carne bovina, com gastos de US$ 641 mil. No caso da carne de frango, o total exportado em 2016 foi de US$ 5,946 bilhões. A China sozinha comprou 14,45% do total (US$ 859,482 milhões).

 ??  ?? Ministro da Agricultur­a, Blairo Maggi, fala sobre a suspensão das exportaçõe­s de 21 frigorífic­os suspeitos
Ministro da Agricultur­a, Blairo Maggi, fala sobre a suspensão das exportaçõe­s de 21 frigorífic­os suspeitos

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil