CORTE NA CARNE
O mercado externo não perdoou as denúncias de que a carne enviada pelo Brasil pode ter sido fraudada para aumentar o lucro dos frigoríficos. Ontem, países importadores anunciaram restrições ao produto das empresas investigadas pela Polícia Federal na Operação Carne Fraca. Entre eles, alguns dos maiores clientes do Brasil, que é o segundo maior produtor de carne bovina do mundo e o maior exportador. União Europeia, Coreia do Sul, China e Chile declararam seu receio em continuar consumindo carne brasileira.
Pressionado, o governo federal por meio do Ministério da Agricultura anunciou a suspensão da licença de exportação de 21 plantas de frigoríficos sob investigação na operação deflagrada na última sexta-feira. Para o mercado interno, no entanto, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, afirmou que a venda dos produtos continua liberada. Segundo ele, as medidas dentro do país são mais brandas porque há controle rígido dos procedimentos, com base na legislação, que protege o consumidor brasileiro. “No mercado interno, temos mais controle”, afirmou.
De acordo com o ministro, a preocupação com o mercado externo se deve à dificuldade de reabertura caso haja alguma medida mais rígida. “Uma vez que haja o fechamento de um mercado desses, para reabrir, serão muitos anos de trabalho. A nossa preocupação nesse momento é não deixar sem resposta todos os pedidos de informação que o mercado internacional está nos pedindo”, disse Maggi, lembrando que o mal da vaca louca provocou o fechamento do mercado durante três anos.
Segundo a denúncia da Polícia Federal, o esquema criminoso envolve empresários do agronegócio e fiscais agropecuários que facilitavam a emissão de certificados sanitários para alimentos inadequados para o consumo. A ação envolve grandes empresas como a BRF Brasil, que controla marcas como Sadia e Perdigão, e também a JBS, que detém Friboi, Seara, Swift, entre outras marcas, mas também frigoríficos menores, como Mastercarnes e Peccin, do Paraná. As empresas negam irregularidades.
PORTAS FECHADAS
A Comissão Europeia, braço executivo da União Europeia, afirmou ontem ter pedido que as autoridades brasileiras suspendam da lista de exportadoras ao bloco as empresas investigadas. De acordo com o porta-voz da comissão, Enrico Brivio, a suspensão é temporária e o comunicado não cita o nome das empresas.
A Coreia do Sul informou, por meio de comunicado do Ministério da Agricultura nacional, que vai intensificar a fiscalização de carne de frango importada do Brasil e banir temporariamente as vendas de produtos da BRF. O ministério disse que fornecedores brasileiros de carne de frango terão que enviar um certificado de saúde emitido pelo governo brasileiro.
A China também confirmou que suspendeu temporariamente, desde o domingo (19), as importações depois do escândalo revelado na semana passada. O país, maior importador da carne brasileira, enviou um pedido de informa- ções sobre a operação da PF e avisou que todas as cargas que chegarem aos portos de lá ficarão retidas nos terminais à espera das explicações.
Medidas semelhantes foram tomadas pelo Chile, cujo Ministério da Agricultura anunciou que está barrando temporariamente a compra de carnes. O ministro chileno da Agricultura, Carlos Furche, afirmou em nota que a decisão foi tomada porque não é possível saber com exatidão quais unidades são investigadas e se elas exportaram ao Chile. Segundo ele, a suspensão poderá ser revista quando o governo brasileiro fornecer todas as explicações sobre as denúncias.
Governo barra exportação de 21 investigadas na operação da PF
NÚMEROS DAS EXPORTAÇÕES Os três países que anunciaram embargo à carne brasileira, juntamente com a União Europeia, responderam por 34,24% das exportações de carne bovina e 20,16% das de frango em 2016.
De acordo com dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), as exportações brasileiras de carne bovina somaram US$ 4,344 bilhões no ano passado. Principal importador do produto brasileiro, a China respondeu por 16,71% deste total, com gastos de US$ 702,7 milhões.
A União Europeia comprou 11,24% do total, com gastos de US$ 488,141 milhões. Em seguida está o Chile, que ocupa a nona posição no ranking de compradores e importou 6,81% do total vendido ao exterior (US$ 296 milhões). A Coreia do Sul respondeu por apenas 0,01% das exportações de carne bovina, com gastos de US$ 641 mil. No caso da carne de frango, o total exportado em 2016 foi de US$ 5,946 bilhões. A China sozinha comprou 14,45% do total (US$ 859,482 milhões).