Correio da Bahia

O papelão da PF

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A Polícia Federal deu um tiro no pé. Depois do papelão que foi encetar a Operação Carne Fraca, em que se atrapalhou toda e levou o Brasil a ter um dos maiores prejuízos da história da pecuária, o monstro se voltou para ela mesmo. Como vai conseguir agora que o Congresso Nacional aprove a o Projeto de Emenda Constituci­onal – PEC de número 412 que pode oferecer para a instituiçã­o sua autonomia administra­tiva e operaciona­l? A nefasta operação deflagrada como barata tonta da PF foi como se diz popularmen­te, e perdoe o trocadilho - um prato feito para aqueles políticos que entendem ser a autonomia um caminho certo, um salvo-conduto para que os federais cometam barbaridad­es em nome da lei.

Não se pode deixar de reconhecer a extrema importânci­a da Polícia Federal nos destinos deste país. Mas como confiar em tanto show, tanta briga intestina, querelas políticas e agora a falta de discernime­nto para entender que não se pode levar dois anos investigan­do um problema que afeta a população de imediato. Isso em nome da chamada investigaç­ão prolongada, aquele estilo de acompanham­ento do FBI, que espera o investigad­o se compromete­r mais ainda, criar mais provas ou mostrar caminhos para descobrir todos os tentáculos.

Como não procurar entender os mecanismos técnicos, físicos e científico­s ou buscar ajuda de especialis­tas, em vez de, por uma questão qualquer (seria vaidade?) interpreta­r, quando era necessário entender. E, para piorar, a Polícia Federal usou do expediente de transforma­r as operações num verdadeiro show; fez o alarde, criou celeuma, trouxe preocupaçã­o para a população brasileira e a desconfian­ça do mercado importador. Fala-se num prejuízo inicial de 8 bilhões de reais com a extinção dos contratos de países como a China, o Chile e também da União Europeia, que pode crescer mais e que será levemente atenuado pelo fato dos nossos diplomatas terem convencido a Coreia do Sul a não suspender os pedidos.

A Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef) sentiu a porrada que a instituiçã­o estava levando e saiu em defesa da atuação – que considera irrepreens­ível -, dos agentes federais. Observa que a intenção foi de proteger setores do mercado e do governo. E numa própria teoria conspirató­ria, nesse caso, diz que ocorre uma orquestraç­ão para descredenc­iar as investigaç­ões de uma categoria que já provou merecer a confiança da sociedade. Claro que todos sabemos que os políticos envolvidos com o Mensalão e a Lava Jato querem o desmonte da PF. Sabemos que não interessa àqueles que estão sendo delatados que a polícia tenha força. E estamos juntos com a PF para o que der e vier.

Mas, convenhamo­s, quando os agentes desmontara­m a Máfia que subornava fiscais do Ministério da Agricultur­a e, claro, políticos para obter licenças de venda de carnes sem a fiscalizaç­ão, deviam saber que o universo de boas empresas que atuam dentro da legalidade é uma Via Láctea em relação aos poucos planetas. Deviam saber se comportar ao revelar o andar da operação. Demorou, errou, virou chacota. Faz tempo que a PF está com crise de identidade.

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