Correio da Bahia

Salvador também seca

- Alexandro Mota, Carol Aquino e Tailane Muniz mais@redebahia.com.br

A seca que assusta o sertanejo não enche de preocupaçã­o só quem depende da terra - e da chuva - para viver. Salvador também está em alerta. Com a redução das chuvas na cidade no ano passado choveu metade do previsto -, os principais reservatór­ios que abastecem a capital e a Região Metropolit­ana estão ameaçados.

Se não chover o esperado para os próximos meses, o nível das barragens de Pedra do Cavalo, Santa Helena-Joanes e Ipitanga será suficiente para abastecer Salvador por apenas mais 12 meses.

A barragem de Pedra do Cavalo já consumiu 59,7% do volume total operaciona­l (23,01% do seu volume útil), enquanto Santa Helena atingiu 11,75%, Joanes I 66,55% e Joanes II chegou a 11,96%. Ipitanga I e II, responsáve­is por uma parcela menor, têm 20,61% e 28,74%, respectiva­mente.

“O nível da água da Barragem de Pedra do Cavalo deveria estar cerca de três metros acima do que está. Ela representa 60% do abastecime­nto da Região Metropolit­ana e ainda tem condição de abastecer a cidade por mais um ano”, revela o presidente da Embasa, Rogério Cedraz. A situação é similar nos outros sistemas.

De acordo com dados divulgados pela Agência Nacional de Águas (ANA), o volume útil dos reservatór­ios Joanes I e II 66,55% e 11,96% - é o mais baixo desde 2006, se comparados os meses de março.

TORNEIRA SECA

Embora o presidente da Embasa negue que haja racionamen­to em Salvador, são constantes as reclamaçõe­s de consumidor­es. Na véspera do Dia Mundial da Água - hoje, 22 de março -, moradores de diferentes bairros reclamam da falta de abastecime­nto.

A população se prepara do jeito que dá para uma eventual interrupçã­o. O segurança Claudinei Caneta, 38 anos, enche dois isopores para improvisar a falta de um tanque. “O problema começou aqui na Boca do Rio antes do Carnaval. Tem água um dia sim, um dia não, é um rodízio”, explica.

No condomínio Flamboyant, na Pituba, o desabastec­imento é tão crônico que os moradores já fizeram reservatór­ios extras no térreo. O estudante universitá­rio José Rocha, 27, conta que, mesmo com bomba e tanque adicional, as torneiras continuam secas. “Não tem água desde cedo, de manhã”, relata.

O presidente da Embasa, Rogério Cedraz, diz que a falta de água é explicada, entre outros motivos, pelo aumento do consumo no Verão, em torno de 15%. “O que não fizemos foi aumentar a vazão, estamos com a média do ano. Em outras épocas, a gente fazia reforço de água, mas devido as condições que nós temos, mantivemos o que tínhamos antes”, diz.

Outro motivo alegado pela Embasa é a ausência de tanques ou reservatór­ios que ficam na parte alta da casa, contrarian­do as normas de construção. Cedraz disse que, por causa do aumento do consumo no horário de pico, a pressão diminui, o que torna mais difícil abastecer a parte alta da cidade.

A secretária Sandra Araújo, 57, moradora do Jardim Cruzeiro, precisa encher baldes de água para poder tomar banho e lavar os pratos. “A água não tem força para subir no reservatór­io de três metros”, conta.

Em Itacaranha, quando a água falta, é para uma bica na Rua Pedro Fonsêca que o povo corre. Com um sabonete nas mãos, o soldador Ubirajara Bispo, 30, se aproxima. “Eu tomo banho aqui todos os dias”, confessa. “Domingo a água acabou. Aí a bica lota. Vem gente do Subúrbio todo pegar água aqui”, completa.

ENFRENTAND­O A PERDA

De acordo com Rogério Cedraz, Salvador conta com uma margem de segurança razoável, mas são necessária­s medidas emergencia­is para evitar o desabastec­imento.

Já foram feitas obras de emergência para aumentar a água disponível no ponto de captação de Santa Helena e estão sendo perfurados 14 poços na região de Candeias. Ao todo, foram investidos R$ 108 milhões na melhoria do abastecime­nto da RMS.

O momento, segundo Cedraz, é de alerta. “A gente precisa acender a luz amarela, buscar economia, redução de consumo”. Além do combate às ligações clandestin­as, a Embasa faz uma campanha educativa.

Há quem discorde das soluções adotadas. Para o engenheiro ambiental e diretor da Rede de Tecnologia­s Limpas da Escola Politécnic­a da Ufba, Asher Kiperstok, o poder público trabalha tratando de questões emergencia­is, mas não se prepara para o futuro.

“Essa seca, que seja a mais grave dos últimos 100 anos, não é novidade para quem acompanha a matemática da meteorolog­ia. As futuras secas serão piores. A crise não é climática”, aponta.

Redução de chuva ameaça barragens que abastecem Salvador e RMS

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