PORTAS FECHADAS
Mais portas se fecharam para a carne brasileira no mercado internacional. Em mais um capítulo de repercussão da Operação Carne Fraca, Japão, Hong Kong, México e Suíça suspenderam ontem as compras de produtos originários dos 21 frigoríficos colocados sob suspeita pela Polícia Federal. A Jamaica foi ainda mais longe: além de suspender as compras, apelou para que a população simplesmente não coma carne brasileira e ordenou que supermercados retirem de suas prateleiras os produtos no setor bovino.
Os países aumentam a lista de territórios que já haviam anunciado restrições à entrada de carnes brasileiras na véspera. Mesmo informando que não irá suspender a importação, a Argentina avisou que vai aumentar ainda mais o controle de carnes brasileiras.
Já o vizinho Uruguai manifestou apoio ao Brasil e considerou suficientes as medidas adotadas pelo governo para garantir a sanidade dos produtos. Voltando atrás em sua decisão, a Coreia do Sul desistiu de bloquear as compras de produtos da BRF, e a China deu indicações de que poderá suspender, em breve, a medida que atualmente proíbe o desembaraço (saída do porto) da carne brasileira exportada para lá. Essas idas e vindas deverão continuar por algum tempo, disse o secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Luís Eduardo Rangel. Ele considera natural que os 33 países que receberam produtos dos estabelecimentos investigados na Carne Fraca queiram explicações adicionais e já tem pronta uma resposta-padrão, que é adaptada para cada mercado. Muitas vezes, os governos adotam restrições até para dar uma resposta a seus consumidores. “Se formos convincentes e rápidos, não teremos um bloqueio”, disse o ministro da Agricultura, Blairo Maggi. “Não podemos entrar numa lista negra”.
Ele informou ter recebido “de alguém” uma estimativa segundo a qual uma redução das exportações de carne por causa da operação poderá trazer prejuízo estimado em US$ 5 bilhões nos próximos cinco anos.
Outros seis países barram a carne brasileira; Coreia do Sul volta atrás
IMAGEM SUJA
Os estragos já estão sendo sentidos por empresas que nem estão sob investigação da PF. O Jornal Nacional mostrou ontem o exemplo de uma cooperativa de Matelândia, no interior do Paraná, cuja produção de frango é 50% destinada ao mercado internacional. Após as denúncias, a cooperativa está com 38 contêineres parados no porto de Paranaguá (PR). Outros 119 estão no mar e 25 parados na China sem poder entrar. Ao todo, são quase cinco mil toneladas de frango, que equivalem a mais de US$ 10 milhões, esperando que a porta seja reaberta.
Ontem, Maggi visitou a unidade da Seara, do grupo JBS, em Lapa, a 70 km de Curitiba. A planta é o único estabelecimento alvo da operação que exporta para a China. No ano passado, foram embarcadas 60 mil toneladas. A Carne Fraca revelou que os três fiscais que atuavam na unidade assinavam documentos sem fazer vistoria.
O problema é particularmente grave porque os agentes autorizaram exportações sem fiscalizar. E os chineses só aceitam o produto brasileiro porque o governo dá garantia de conformidade. Na teleconferência de anteontem à noite, os chineses pediram justamente uma garantia por escrito de que o produto processado naquela planta tem qualidade. Com o envio dessa documentação, os técnicos acreditam que as importações serão retomadas.
A lista com o nome dos 21 frigoríficos investigados pela PF, localização das unidades e motivo da fiscalização foi divulgada ontem pelo Ministério da Agricultura e está no www.correio24horas.com.br.