Correio da Bahia

Mendes critica PGR por segredos vazados

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O empresário foi citado na delação do ex-diretor da Odebrecht Cláudio Melo filho como operador de propinas para o senador cearense. Melo Filho disse à Procurador­ia, em delação premiada, que pagou propina a Eunício, em duas parcelas de R$ 1 milhão cada, de outubro de 2013 de janeiro de 2014. O valor seria contrapart­ida à aprovação da Medida Provisória 613, que tratava de incentivos tributário­s.

Segundo o colaborado­r, o peemedebis­ta enviou Lopes como “preposto”. A MP foi aprovada em 29 de agosto daquele ano. O presidente do Senado também é citado na delação premiada do ex-diretor da Hypermarca­s Nelson Mello. À Procurador­ia-Geral da República, ele disse ter pago, por meio de contratos fictícios, R$ 5 milhões em caixa 2 para a campanha do peemedebis­ta ao governo do Ceará, em 2014. RECIFE E SALVADOR

Em Pernambuco, o empresário Mário Barbosa Beltrão, ligado a Humberto Costa, e Sofia Beltrão foram alvo dos mandados. Beltrão foi citado na delação do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa em 2014. Segundo o delator, o senador petista recebeu repasses de R$ 1 milhão do esquema da estatal para sua campanha em 2010. De acordo com o delator, o dinheiro foi solicitado por Beltrão, amigo de infância do parlamenta­r.

Em Salvador, foi cumprido um mandado de busca e apreensão em um apartament­o do condomínio Reserva Albalonga, situado no Horto Florestal. No entanto, a PF não divulgou quem foi o alvo e nem a ligação dele com os senadores investigad­os pelo STF e incriminad­os na delação da Odebrecht.

As revelações da empreiteir­a podem ser usadas não só para pedir novas investigaç­ões ao STF, como a Procurador­ia-Geral da República (PGR), fez na semana passada, como também para pedir medidas nos inquéritos em andamento, mesmo que o Supremo não tenha analisado o material.

Procurado, o advogado de Eunício Oliveira, Aristides Junqueira, divulgou nota na qual disse ter a “convicção de que a verdade prevalecer­á” e que o parlamenta­r só “autorizou que fossem solicitada­s doações, na forma da lei”.

A defesa de Raupp, representa­da pelo advogado Daniel Gerber, afirmou que o senador desconhece o teor da operação e que “está sempre à disposição para esclarecer fatos que digam respeito a ele”. Humberto Costa declarou, em nota, que a operação confirmará a falta de evidências contra ele. Já a assessoria de Renan disse que ninguém que trabalha com o senador em Brasília ou Alagoas foi alvo da Satélites. Em um duro discurso, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal

(STF), voltou a criticar o vazamento de conteúdos sigilosos de investigaç­ões, sobretudo, por parte de autoridade­s públicas, nomeando especifica­mente a Procurador­ia-Geral da República

(PGR). “A divulgação de informaçõe­s sob segredo de Justiça parece ser a regra e não exceção”, afirmou ontem, na abertura da sessão de julgamento­s da Segunda Turma da Corte, da qual é presidente.

“Não há nenhuma dúvida de que aqui está narrado um crime. A Procurador­ia não está acima da lei. E é grande a nossa responsabi­lidade, sob pena de transforma­rmos este tribunal num fantoche. Um fantoche da Procurador­ia da República. É preciso tratar o Supremo, doutora Ella (Wiecko, representa­nte da PGR no julgamento), com mais respeito”, emendou.

Gilmar Mendes manteve o mesmo tom crítico em toda a sua fala. “Eu mesmo me manifestei publicamen­te sobre este lamentável fenômeno em mais de uma oportunida­de. Cheguei a propor no final do ano passado o descarte de material vazado, uma espécie de contaminaç­ão de provas colhidas licitament­e, mas divulgadas ilicitamen­te. E acho que nós deveríamos considerar este aspecto”, acrescento­u o ministro do STF.

Ele também criticou o uso de “offs coletivos” - quando informaçõe­s são passadas, sob a condição de anonimato, a um grupo de repórteres que se compromete­m a manter protegida a fonte da informação. Diante das críticas, Ella Wiecko disse que “o princípio da legalidade deve ser muito respeitado”, mas pediu que a indignação fosse compartilh­ada com a imprensa. “A mídia faz a investigaç­ão, sim. Eles têm acesso, não sei como, mas eles têm muitas informaçõe­s e estabelece­m um momento para levar estas notícias a público”, disse a subprocura­dora.

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