Talento brasileiro: uma eterna fênix
No dia 8 de julho de 2014, os amantes do futebol mundial assistiam a um dos jogos mais chocantes da história do esporte. No estádio Mineirão, o Brasil era humilhado pela Alemanha por 7x1, numa semifinal de Copa do Mundo. Falta de estrutura e organização, técnicos e profissionais defasados, corrupção na Confederação Brasileira de Futebol e geração ruim de jogadores foram algumas das justificativas para a eliminação da equipe verde e amarela. Tentaram explicar o inexplicável e, após quase três anos, essa constatação ficou ainda mais evidente. Logicamente, todos esses questionamentos, de uma forma ou de outra, contribuíram para o fracasso brasileiro diante dos alemães. Todavia, como conseguimos nos reerguer depois de tão pouco tempo? Hoje, com a liderança isolada das Eliminatórias para a Copa da Rússia-2018, o torcedor brasileiro praticamente esqueceu do péssimo desempenho no último Mundial.
Com 27 pontos, a equipe do técnico Tite, segundo os matemáticos, tem 99% de chances de conseguir uma vaga na competição. Nas últimas quatro edições das Eliminatórias, o Uruguai, quinto colocado em todas elas, garantindo assim uma vaga na repescagem, somou 27, 25, 24 e 25 pontos nos anos de 2002, 2006, 2010 e 2014, respectivamente. Por isso, um simples empate diante, justamente, dos uruguaios, amanhã, às 20h, em Montevidéu, carimba nosso passaporte para a Rússia.
E essa mudança de postura deve-se a diversos aspectos. O primeiro deles é a capacidade do Brasil de produzir novos talentos, por mais que muitos não acreditem. Vejamos a escalação do 7x1: Júlio César, Maicon, Dante, David Luiz e Marcelo; Luiz Gustavo, Fernandinho e Oscar; Bernard, Hulk e Fred. Destes, apenas o lateral-esquerdo Marcelo segue como titular absoluto da posição, além de Neymar, é claro, mas que estava lesionado naquela semifinal por causa de uma fratura na vértebra. Renovamos o elenco com jovens jogadores como Gabriel Jesus, Philippe Coutinho, Casemiro e Marquinhos, mas também soubemos aproveitar a experiência de atletas como Daniel Alves, Miranda, Paulinho e Renato Augusto.
O resgate da confiança só foi possível também graças à mudança no comando técnico. Com Dunga, adepto de um futebol mais consistente no sistema defensivo, o retrospecto em campo reproduziu fielmente à ideologia. Em seis rodadas, foram duas vitórias, três empates e uma derrota, com 11 gols marcados e oito sofridos. Já com Tite, parece até um truque de mágica. Também em seis partidas nas Eliminatórias, a equipe conseguiu seis triunfos, com 17 gols feitos e somente um levado. No contexto atual, o jogo coletivo passou a ser priorizado e a “Neymardependência”, característica forte na época de Dunga, praticamente deixou de existir. Gabriel Jesus, com cinco gols, passou a ser o artilheiro, enquanto Ney, agora, ataca de garçom, com cinco assistências no período. Nove jogadores diferentes balançaram as redes, o que é mais um indicativo do espírito de grupo implantado pelo treinador gaúcho. Posse de bola e transição a partir de troca de passes voltaram a ser a nossa identidade, assim como acontecia nas seleções de 1970 e 1982, referências quando se fala em perfil do futebol brasileiro.
Tite não vai agradar a todos e isso é quase impossível quando tratamos de Seleção. A cada convocação, uma opinião diferente irá surgir sobre um determinado atleta. Apesar disso, a base para 2018 está formada e a tendência, daqui até lá, é afinar ainda mais o estilo de jogo. Com tamanha coletividade e consciência tática, além das habilidades naturais dos craques Coutinho, Gabriel Jesus e Neymar, o hexa pode se tornar uma realidade. E, assim como a fênix, o futebol brasileiro sempre vai ressurgir.
SUB-17
Mais uma evidência da capacidade brasileira de produzir novos talentos pôde ser vista no Campeonato Sul-Americano Sub-17. A equipe dirigida pelo baiano Carlos Amadeu, ex-Vitória, fez uma campanha de dar orgulho. Em nove partidas, foram sete triunfos e dois empates: 24 gols marcados e três sofridos. Mais do que bons números, o time teve ótima performance. Nomes como Vinicius Júnior (Flamengo) e Alan (Palmeiras) nos deixam bem animados para o futuro a médio prazo.