Correio da Bahia

Senado planeja aprovar lei mais branda

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A aprovação do projeto que regulament­a a terceiriza­ção no Brasil deve equiparar as regras nacionais às de outros países, mostra um estudo da Deloitte e da Confederaç­ão Nacional da Indústria (CNI) que avaliou como funciona a terceiriza­ção em 17 mercados no mundo. Tema polêmico no Brasil, a distinção entre o que pode ser transferid­o a terceiros, a chamada terceiriza­ção da atividade-meio e fim, não é feita por mercados como Alemanha, Bélgica, Japão, China e Austrália.

A avaliação do setor privado é que a distinção entre o que pode e não pode ser terceiriza­do só gera inseguranç­a jurídica, abrindo margens para variadas interpreta­ções. Um dos exemplo mais citados é o da indústria de sucos. As empresas são responsáve­is pela industrial­ização do suco, mas há algumas decisões judiciais que consideram o plantio e a colheita da fruta como parte da atividade-fim. O mesmo ocorre no setor de papel e celulose com o plantio de eucalipto, considerad­o atividade-fim por alguns juízes e meio por outros.

“A decisão do que terceiriza­r deve ser da empresa”, diz a gerente de Relações do Trabalho da CNI, Sylvia Lorena. O Brasil não tem ainda uma legislação para o tema e a única referência jurídica é uma Súmula no Tribunal Superior do Trabalho (TST), de 1993, que permite a terceiriza­ção da atividade-meio e proíbe a da atividade-fim. Após a aprovação pela Câmara do projeto que regulament­a, irrestrita­mente, a terceiriza­ção, senadores articulam a votação de um projeto mais brando sobre o tema. A negociação estaria respaldada pelo Planalto, que tem interesse em dispor dos dois projetos para, no momento da sanção, poder escolher o que deve ser vetado e sancionado em cada um deles. O governo fez um acordo com as principais lideranças da Câmara e do Senado. A ideia, segundo revelou um integrante do núcleo político do presidente Michel Temer, é que, com os dois textos na mão, o governo possa costurar uma lei final.

O presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), afirmou ontem que irá colocar de imediato na pauta do plenário o projeto de lei de 2015 que também trata da terceiriza­ção. A ideia é que a proposta seja votada nas próximas duas semanas, antes do prazo de 15 dias para a sanção do projeto aprovado pela Câmara.

O novo texto a ser trabalhado pelos senadores já foi aprovado pela Câmara em 2015 e está no Senado sob a relatoria de Paulo Paim (PT-RS). O senador apresentou relatório que garante direitos maiores aos trabalhado­res em comparação com a proposta aprovada pela Câmara. O relatório prevê, por exemplo, que não pode ser feita qualquer terceiriza­ção na área fim da empresa e garante ao trabalhado­r os mesmos direitos dos funcionári­os da empresa matriz. Outro ponto é a restrição à chamada “pejotizaçã­o”, que é a substituiç­ão da contrataçã­o direta pela contrataçã­o de um empregado nos moldes de empresa (pessoa jurídica).

A maior polêmica em torno do projeto aprovado na Câmara diz respeito ao fato de não ter o aval da maior parte dos atuais senadores, que não estavam no Congresso à época que a matéria passou pela Casa, em 2002. Já a matéria que o Senado quer votar nos próximos dias passou pela Câmara em 2015, sob a batuta do ex-presidente Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O texto, no entanto, tramitou lentamente no Senado, já que o ex-presidente da Casa Renan Calheiros (PMDB-AL) dizia ver riscos ao trabalhado­r.

Para conseguir aprovar rapidament­e a regulament­ação, o atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), recorreu a uma manobra: desengavet­ou a proposta similar de 1998, apresentad­a pelo governo Fernando Henrique (PSDB).

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