200 anos do fuzilamento do Padre Roma
Na manhã do sábado, 29 de março de 1817, José Inácio Ribeiro de Abreu e Lima, o Padre Roma, deixou as masmorras do Forte de São Pedro, onde estava recolhido e algemado, e escoltado por soldados seguiu a pé até o Campo dos Mártires (Campo da Pólvora) para ser fuzilado com um tiro de arcabuz pelo então coronel Felisberto Brand Caldeira. O Padre Roma tinha sido preso três dias antes em Itapuã, segundo alguns historiadores, ou, na Barra, segundo a gazeta baiana, ao desembarcar de uma jangada que partira das Alagoas, na condição de embaixador e propagandista da Revolução Pernambucana.
Trazia consigo mais de 50 correspondências endereçadas a membros da maçonaria baiana e outros simpatizantes. As autoridades não tiveram aceso aos documentos, o Padre, percebendo a guarnição que o esperava, jogou no mar e também não declinou os nomes dos destinatários no interrogatório a que foi submetido. O Conde dos Arcos, governador da Bahia, dispensou as formalidades jurídicas de um processo crime e num julgamento sumário o condenou à morte. Os baianos que observavam o cortejo militar entre o Forte e o Campo da Pólvora não tinham a menor ideia de quem era o condenado e nem o porquê da pena imposta.
O jornal baiano Idade D’Ouro do Brasil foi o primeiro jornal no mundo a narrar o episódio e, durante semanas, foi a fonte principal de outros periódicos: a Gazeta do Rio de Janeiro no Brasil, o Times americano, jornais da França e alguns dos periódicos portugueses impressos em Londres: O Português e o Investigador Português. A gazeta baiana noticiara em primeira mão a Revolução Pernambucana com 24 dias de atraso e na mesma edição a morte do Padre Roma, assim justificava a omissão: “Há muitos dias que sabemos dos nefandos sucessos de Pernambuco e não os temos anunciado pela repugnância de enxovalhar a nossa folha com atentados infames... Um sacerdote natural de Recife, já conhecido por sua execrável conduta, denominado José Inácio Romano... Quis a providência que este malvado saltasse na Barra da Bahia no dia 26 de março onde foi preso e conduzido ao segredo e exposto a uma comissão militar”.
A Gazeta do Rio de Janeiro foi mais omissa, ainda, noticiando os acontecimentos de Pernambuco apenas em 14/5/17, quase dez semanas após a instalação do governo provisório que se dizia republicano, e nunca noticiou o fuzilamento do Padre Roma, certamente para não provocar reações entre a maçonaria local e outros públicos de ideias liberais. A Gazeta, num primeiro momento, abriu mão de suas próprias fontes, correspondências que recebia de informantes de Pernambuco e Alagoas e do corpo diplomático, para repercutir os artigos do jornal baiano. E justificava o seu silêncio com um argumento espúrio: “Temos demorado por longo tempo o comunicar aos nossos leitores quanto nos constava dos desastrosos sucessos, acerca da revolta de Pernambuco, não tanto pelo horror que sentíamos em referir semelhante acontecimento... mas para não adiantar fatos em circunstancia alguma de que não tivéssemos completa informação”.
O Correio Braziliense, de Hipólito da Costa, não se omitiu e deixou clara a sua posição contrária à forma como se deu a Revolução: “Ninguém deseja mais do que nós as reformas úteis, mas ninguém aborrece mais do que nós, sejam essas reformas feitas pelo povo. Reconhecemos as más consequências desse modo de reformar. Desejamos as reformas, mas feitas pelo governo”. Advertia, contudo, para a necessidade de ouvir o descontentamento do povo e nas entrelinhas deixava claro o amadorismo dos insurgentes. Tinha razão. A Revolução Pernambucana foi uma aventura, sem método e planejamento, e por isso e mais o equívoco ao imaginar um apoio externo dos EEUU e Inglaterra, não sobreviveu a três meses.
A gazeta baiana noticiara
em primeira mão a Revolução Pernambucana com 24 dias de atraso e na mesma edição a morte do
Padre Roma