Prioridade
Grávida de 7 meses, a técnica de enfermagem Cristiane Santos Souza, de 31 anos, teve de viajar cinco horas entre Crisópolis, onde reside, e Salvador. O trajeto de 232 quiilômetros, iniciado à 1h da madrugada, foi percorrido em cinco horas, tempo em que dividiu o banco do carro da prefeitura de sua cidade com outras pessoas que, como ela, vieram à capital em busca de atendimento médico especializado não encontrado em Crisópolis. E, no caso dela, o sacrifício foi em vão. Ela perdeu a consulta do pré-natal agendada para ontem por causa de uma paralisação dos médicos da Maternidade José Maria de Magalhães Neto para reivindicar direitos trabalhistas não cumpridos pelo Instituto Hygia, empresa terceirizada que administra a maternidade.
A empresa, em nota, nega que os salários dos médicos estejam atrasados e garante que manteve os mesmos profissionais contratados pela empresa que administrava a maternidade antes dela, incluindo a mesma forma de contratação, preservando as garantias dadas aos trabalhadores pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e a autonomia proporcinada a pessoas jurídicas.
“Como sou do interior, não sabia que a unidade estava com os atendimentos suspensos. Saí de casa muito cedo e vou voltar sem a consulta que eu estava precisando”, disse a gestante, resignada.
A disputa entre os médicos e a Hygia afetou outras mulheres, grávidas ou recém-paridas. A José Maria de Magalhães Neto, a maior maternidade do estado, realiza, em média, 500 partos por mês e também é especializada no tratamento de recém-nascidos. Jussara dos Santos também esteve lá ontem, a troco de nada. Ela foi levar o filho, de cinco dias, para exames de rotina. “O que a gente vai fazer (numa situação dessas)? Como é que a gente vai poder ter nossos filhos? A quem a gente vai recorrer?”, questionou.
EMERGÊNCIAS
O CORREIO esteve na maternidade na manhã de ontem e verificou que apenas casos considerados de urgência eram atendidos, entre eles sangramentos, rompimentos de placentas ou emergências que coloquem em risco a vida das gestantes e dos bebês. Cristiane chegou a passar por uma triagem, teve medida a pressão e os batimentos cardíacos do bebê. Após esses rápidos procedimentos, recebeu a orientação de procurar outra unidade de saúde. Ela desistiu de Salvador e afirmou que iria tentar uma consulta em Alagoinhas. Entre as unidades recomendadas pelos médicos que aderiram à paralisação estavam o Hospital Roberto Santos e o Iperba.
Segundo o Sindicato dos Médicos (Sindmed), a decisão de suspender os serviços por 24 horas foi tomada em assembleia realizada na semana passada. De acordo com presidente do Sindimed, Francisco Magalhães, os médicos são contratados pela Hygia para prestar serviços como pessoas jurídicas, dificultando o cumprimento de acordos trabalhistas. “Os médicos estão pedindo aquilo que determina a lei, em que todo trabalhador tem que ter um vínculo formal, ou seja a contratação pelo regime da CLT”, explica.
Ainda segundo ele, a mobilização pode se estender nos próximos dias caso não haja um acordo entre a Secretaria de Saúde do Estado (Sesab), dona da maternidade, a Hygia e os médicos da unidade. Magalhães disse que a Sesab foi notificada sobre a paralisação, mas, “ignorou completamente a situação”, e que a Hygia “deu uma resposta evasiva” à pauta de reivindicações dos médicos. Também em nota, a Sesab garantiu: “As unidades da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab) estão funcionando normalmente”.