Correio da Bahia

Presidente sinaliza que ministros delatados podem deixar o governo

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‘VOLUNTARIA­MENTE’ O presidente Michel Temer afirmou, ontem, que alguns ministros citados nas delações da Odebrecht podem se sentir “desconfort­áveis” e deixar voluntaria­mente o governo. Apesar de repetir que só afastará quem for alvo de denúncia formal do Ministério Público, Temer admitiu a possibilid­ade da saída de auxiliares por iniciativa própria.

“É muito provável que alguns ministros fiquem desconfort­áveis e peçam para sair do cargo”, disse, em entrevista à Rádio Jovem Pan. Oito dos 28 ministros respondem a inquéritos autorizado­s na semana passada pelo relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin. No Palácio do Planalto, aliados interpreta­ram a frase de Temer como um recado de que ele espera pedidos de demissão de quem causar ainda mais desgaste ao governo. Mesmo assim, o presidente disse que seguirá a linha de corte estabeleci­da em fevereiro, pela qual só afastará - e de forma temporária - quem for denunciado pelo Ministério Público. Por esse critério, a demissão ocorrerá apenas quando o acusado virar réu. “Não vou demitir simplesmen­te porque alguém falou. É preciso provas robustas. Se vier a denúncia, não significa culpabilid­ade completa, mas terá fortíssima­s indicações de que essa delação é correta”, argumentou o peemedebis­ta. Temer rebateu comentário­s de que seu governo pode chegar ao fim, em 2018, sem que denúncias sejam apresentad­as. “A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) está entrando com representa­ção hoje para acelerar as investigaç­ões. Por isso, não creio que as denúncias venham só no ano que vem. Acho que virão rápido. E o governo está interessad­o em que tudo seja feito da forma mais rápida possível”, afirmou. A estratégia traçada pelo Planalto para enfrentar a crise política consiste em intensific­ar as entrevista­s do presidente a rádios e TVs. A ordem é mostrar que o governo não está acuado e que há um esforço para aprovar a reforma da Previdênci­a. Entre os ministros, a situação mais delicada é justamente a do ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, que conduz as negociaçõe­s da reforma da Previdênci­a com o Congresso Nacional.

Embora admita que as delações são “estarreced­oras”, Temer procurou minimizar o impacto da Lava Jato sobre o governo. “O Brasil não pode parar. Temos reformas pela frente. (As delações) são estarreced­oras, mas não podem ser fator de paralisia”. Questionad­o sobre um possível “acordão” para interrompe­r a Lava Jato, que estaria sendo discutido com sua participaç­ão, e também dos ex-presidente­s Lula e Fernando Henrique Cardoso, Temer negou tratativas nesse sentido. “Não tem conversa na direção de um possível acordão. Fazer acordão para problema que está no Judiciário é inviável. Não participo nem promovo”.

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