Obesidade é de quase 20% em Salvador
A luta contra a balança atinge mais da metade dos soteropolitanos. Mais da metade da população de Salvador, 53,8%, está acima do peso ideal. O índice de obesos registrado na capital baiana, de 19,9%, é maior que a média nacional, onde o problema atinge 18,9% da população, de acordo com estudo divulgado pelo Ministério da Saúde na pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel).
A parcela de brasileiros obesos cresceu 60% em dez anos. Em 2016, esse percentual foi de 18,9%. Já em 2006, era de 11,8%. Os dados mostram ainda que a prevalência da obesidade duplica a partir dos 25 anos e é maior entre os que têm menor escolaridade. Para o Ministério da Saúde, vários fatores colaboram para esse crescimento. “Temos dados que mostram que as pessoas que consomem mais alimentos ultraprocessados apresentam maior prevalência de obesidade. Além disso, há fatores psicológicos, estresse, a dificuldade de levar alimentos [saudáveis] ao trabalho e a falta de atividade física”, diz Michele Lessa, coordenadora de alimentação e nutrição no ministério.
Assim como a quantidade de pessoas com excesso de peso cresceu, aumentou também a incidência de diabetes em 61,8% – passou de 5,5%, em 2006, para 8,9% no último ano. Também cresceu o percentual de brasileiros diagnosticados com hipertensão, de 22,5%, em 2006, para 25,7% em 2016. Na Bahia, 8% são diabéticos e 27,4% estão hipertensos.
Apesar de registrar um número maior de obesos, dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde mostram uma redução anual de 2,6% da mortalidade prematura por doenças crônicas entre adultos. Doenças cardiovasculares, respiratórias crônicas, diabetes e câncer respondem por 74% dos óbitos e são a primeira causa de mortes.
Mas até que ponto estar acima do peso é doença? Segundo a endocrinologista e conselheira do Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia (Cremeb) Diana Viegas, até existem pessoas que estão fora do Índice de Massa Corpórea (IMC) que são saudáveis, levando em consideração que praticam atividades físicas e cuidam da alimentação. Os vilões ainda são o sedentarismo e a má qualidade daquilo que comem, principalmente na correria do dia a dia.
“O sobrepeso vai sempre trazer um risco maior. A partir do momento que você sai do índice normal, doenças como diabetes, hipertensão, colesterol, coração e também algum tipo de câncer associado a obesidade, como os de endométrio, intestino e mama, tornam as pessoas ainda mais propensas a desenvolverem isso”, diz. Independente do peso, a prática de hábitos saudáveis, tanto a alimentação quanto as atividades físicas, deve se tornar rotina de quem quer estar com a saúde em dia, afirma.
A administradora dos grupos Gordas Unidas e Gordinhas Lindas da Bahia Carla Leal conta que sempre esteve fora do peso. “Eu não tenho doença associada. Sou uma pessoa saudável. Tinha um amigo, por exemplo, que era magro e que comia muita porcaria. Ele tinha o colesterol altíssimo e eu, que sou gorda, não tinha” compara.
No entanto, ela reconhece que para ficar livre dessas doenças tem que ter cuidado redobrado com a saúde. “Começamos a reunir essas pessoas e realizar eventos de caminhada para incentivar que façam atividades físicas. É preciso que as elas estejam bem, se sintam bem”, afirma.
TRATAMENTO
O estudo do Ministério da Saúde diferencia excesso de peso ou sobrepeso de obesidade. A pessoa com sobrepeso tem Índice de Massa Corporal igual ou maior que 25 quilos por metro quadrado (kg/m²). Com obesidade, implica em IMC igual ou superior a 30 (kg/m²). O valor é calculado pela divisão do peso pela altura elevado ao quadrado.
Em Salvador, o Centro de Diabetes e Endocrinologia do Estado da Bahia (Cedeba) chega a atender, gratuitamente, mais de 2 mil pacientes (entre os tratados e os que ainda estão em tratamento). Cerca de 700 deles chegaram a fazer cirurgia bariátrica, como afirma a endocrinologista e coordenadora do Núcleo de Obesidade do centro, Teresa Arruti. Para ser considerado obeso, o paciente precisa ter um IMC acima de 35. “A gente avalia se o paciente tem o perfil para ficar no núcleo e entrar no fluxo, que é o atendimento da nutrição, enfermaria, psicólogos e assistente social”, explica.
O chefe de cozinha Anderson Veloso pesava 166 kg quando chegou ao Cedeba. Em um ano, perdeu 56 kg. “Eu tive um problema sério, passei dois dias sem andar e procurei ajuda. Eu estava no trabalho e de repente faltou força nas pernas. Quando cheguei aqui passei por grupos de encontros semanais, psicologia, nutrição e endócrino”, lembra Anderson. A batalha para perder peso ainda continua. “O sono melhorou, a qualidade de vida também. Hoje eu faço academia, e sigo firme na reeducação alimentar que foi passada no Centro”.
Mais de 50% de quem vive na capital está acima do peso normal