Enfim, um legado olímpico positivo
Assumo meu erro. Culpa do meu idealismo e, por que não, do sonho de ver o Brasil se tornar uma potência olímpica, ainda que haja tempo para isso. Durante os Jogos do Rio-2016, conversando com alguns dos jornalistas que também participavam da cobertura do evento, comentei que o legado olímpico poderia ser importante para alavancar nosso esporte, caso fosse bem utilizado. Ninguém botou fé.
Mas alguns dos amigos jornalistas também erraram. Apontaram que em pouco tempo o terreno onde ficou o Parque Olímpico e que agora parece uma cidade fantasma - viraria rapidinho local de um novo empreendimento imobiliário carioca. A área, por sinal, é muito valorizada. A questão é que, com a crise econômica, além de outros fatores, nem os apartamentos da antiga Vila Olímpica foram vendidos direito.
Dos mais de 3 mil apartamentos do Condomínio Ilha Pura, como a vila foi rebatizada, menos de 300 haviam sido vendidos até fevereiro. A prefeitura do Rio, inclusive, costurou um acordo com a empreiteira para que as unidades tivessem um preço mais baixo para funcionários públicos. O Riserva Golf, que engloba a área do campo de golfe do Rio-2016, também não decolou. Claro que as vendas podem subir e abrir o olho das empreiteiras para a área do Parque Olímpico.
O grande legado olímpico, por enquanto, nenhum de nós havia previsto. A investigação maciça das confederações nacionais e de seus dirigentes. Desde que os Jogos Olímpicos acabaram, ao menos cinco delas foram alvo de investigação jornalística e/ou criminal por parte das autoridades: Desportos Aquáticos, Taekwondô, Basquete, Judô e Vôlei. As piores situações são da CBDA, CBTKD e CBB. As duas primeiras tiveram seus presidentes afastados pela Justiça por causa de crimes graves. Coaracy Nunes, da CBDA, está preso, inclusive. Já Carlos Fernandes, da CBTKD, teve bens bloqueados mas mesmo assim tenta participar da eleição da entidade. Ainda bem que sua chapa foi impugnada para o pleito da próxima segunda. O Ministério Público Federal pede a devolução de mais de R$ 1 milhão de Fernandes por participação em esquemas de corrupção.
Tanto a CBTKD quanto a CBDA estão, atualmente, sendo comandadas por interventores indicados pela Justiça. Para se ter uma ideia da crise, é o Comitê Olímpico do Brasil quem vai bancar a preparação dos atletas do taekwondô - que deu uma medalha de bronze no Rio-2016 para o país, com Maicon Andrade para o Mundial da Coreia do Sul, em junho.
Na CBB, o ex-presidente Carlos Nunes deixou o cargo somente após a nova eleição da entidade. Dos Jogos Olímpicos para cá, o basquete brasileiro foi suspenso internacionalmente e, ontem, nem apareceu entre os participantes do Americup deste ano. Só no dia 4 de maio, após nova reunião da Federação Internacional de Basquete (Fiba), é que vamos saber se a suspensão da CBB será retirada.
Para completar, ontem o Tribunal de Contas da União (TCU) aplicou uma multa de R$ 15 mil a Nunes por fraudes na gestão dos recursos advindos da Lei Agnelo/Piva apenas no período entre janeiro de 2013 e dezembro de 2015. O secretário-geral da CBB na sua gestão, Edio José Alves, foi multado no mesmo valor. Nunes ficou na CBB de 2009 até o último mês de março. Ou seja, ainda tem muito a ser investigado por lá.
Se a abertura das caixas-pretas das confederações (e do próprio COB) forem mesmo o legado olímpico do Rio-2016, ao menos, os Jogos terão valido a pena. De um jeito ou de outro, o futuro do esporte brasileiro será um pouco melhor. Que sigamos com os olhos abertos e que a Justiça continue atenta a quando o dinheiro público vai parar no bolsos dos dirigentes.
O grande legado olímpico, por enquanto,
nenhum de nós havia previsto. A investigação maciça das confederações nacionais e de seus
dirigentes