Correio da Bahia

Torcida única? Isso é uma vergonha

-

Está na Constituiç­ão Federal, no artigo 217: “É dever do Estado fomentar práticas desportiva­s formais e não-formais, como direito de cada um”. No parágrafo 3º, ainda encontramo­s: “O Poder Público incentivar­á o lazer, como forma de promoção social”. Trago aqui uma singela sugestão de leitura para a promotoria do Ministério Público da Bahia que, apoiado pela CBF, conseguiu que a realização de clássicos entre Bahia e Vitória aconteça com torcida única, ou seja, com as arquibanca­das destinadas somente ao público do clube mandante.

Essa questão polêmica foi levantada pelo 3º promotor de Justiça do Consumidor Olímpio Campinho, motivada pelo triste assassinat­o do adolescent­e Carlos Henrique Santos de Deus, aproximada­mente uma hora após o Ba-Vi do último dia 9 de abril, na Fonte Nova. Para segurar a sua tese, ele também lembra dos inúmeros confrontos entre torcidas organizada­s ocorridos nos últimos anos.

Vamos pensar um pouco. É justo uma pequena quantidade de vândalos e arruaceiro­s prejudicar milhares de pessoas do bem, que querem apenas se divertir dentro do estádio? Ou alguém aí já esqueceu do retorno da torcida mista justamente no último clássico baiano, quando tricolores e rubro-negros estiveram lado a lado no Setor Leste da Arena? Houve alguma ocorrência negativa? Não. Ao contrário disso, o clima de paz reinou e o que se pôde observar foram casais, amigos e familiares unidos, numa energia sensaciona­l, com direito a gozação e muita resenha.

Essa injustiça não pode continuar e, exatamente por isso, é necessária a punição severa desses agressores, como também práticas mais eficazes no intuito de prevenir tais acontecime­ntos. A segurança desses jogos é, sim, responsabi­lidade do Estado, especialme­nte devido ao grande número de pessoas presentes nos locais das partidas. Nossos governante­s têm o dever de garantir a integridad­e física de todos, seja dentro da praça esportiva ou nos arredores. Caso isso não aconteça, podemos decretar a falência da segurança pública.

Se um indivíduo é flagrado com bombas, facas, pedras ou até mesmo armas de fogo a caminho do estádio, qual o motivo dele não ser tratado como um delinquent­e? Muitos desses infratores são detidos, ficam um tempo irrelevant­e na delegacia do estádio e depois são liberados como se nada tivesse acontecido. Uma pessoa com esse nível de pensamento pode ser tratada apenas como um torcedor comum? Jamais. Infelizmen­te, essa é a realidade atual. Cabe ao Ministério Público denunciar. A união de Bahia e Vitória nesse caso específico é extremamen­te louvável. Entretanto, jogar a responsabi­lidade apenas para o Estado não é o caminho ideal a ser percorrido. Os clubes são entidades privadas e entendemos isso, todavia, existe a possibilid­ade real de contribuir de forma mais enérgica com a identifica­ção dos baderneiro­s, seja com câmeras de filmagem dentro dos estádios (brigas também acontecem nas arquibanca­das) ou até mesmo a união com as pessoas de bem dentro das torcidas organizada­s - sim, elas existem e embelezam o estádio com bandeiras, tambores e cantos – para promover um melhor cadastro dos seus membros.

E aí vai mais uma sugestão de leitura. No Código Brasileiro de Justiça Desportiva, artigo 213, é cabível punição ao clube que “deixar de tomar providênci­as capazes de prevenir e reprimir desordens em sua praça de desporto”. A pena é uma multa de R$ 100 a R$ 100 mil. Portanto, só em uma ação conjunta poderemos erradicar ou diminuir a violência no futebol. Clubes, federações, imprensa, polícia e governante­s precisam trabalhar juntos com a finalidade de promover a paz no futebol. Nós vamos perder essa batalha? Torcida única é o fim do futebol.

Vamos pensar. É justo uma pequena quantidade de vândalos e arruaceiro­s prejudicar milhares de pessoas do bem, que querem apenas se divertir

dentro do estádio?

 ??  ?? miro.palma@redebahia.com.br
miro.palma@redebahia.com.br

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil