Correio da Bahia

Nove anos e seis meses

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O juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal em Curitiba, condenou ontem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a 9 anos e seis meses de prisão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá (SP). A decisão no âmbito da Operação Lava Jato abriu uma discussão jurídica e movimentou o mundo político nacional. Cabe recurso e o ex-presidente vai responder em liberdade. A sentença de Moro, porém, remete incertezas aos planos eleitorais do maior líder petista. Lula, que age como pré-candidato à Presidênci­a em 2018 e lidera as pesquisas poderá ficar inelegível se a decisão for confirmada em 2ª instância.

Na sentença de 218 páginas, Moro considerou existirem provas para condenação do petista pelo recebiment­o de R$ 2,2 milhões em propinas, relativas ao recebiment­o de vantagens ilícitas da OAS por meio do triplex, incluindo reformas feitas pela construtor­a. É a primeira vez que um ex-ocupante do Palácio do Planalto é condenado por um crime comum no Brasil. O magistrado da Lava Jato também determinou que o petista, 71 anos, seja proibido de assumir cargos ou funções públicas por 19 anos, decisão que também precisa ser confirmada na instância superior – nesse caso o Tribunal Regional Federal da 4ª Região.

O PT já previa a sentença desfavoráv­el e reiterou o discurso de que Lula é vítima de uma decisão “política”, sem provas. Moro argumentou que não pediu a prisão cautelar do ex-presidente porque “a prudência recomenda que se aguarde o julgamento” de um recurso. Assim que a sentença foi divulgada, centenas de manifestan­tes pró e contra o petista se concentrar­am em diferentes pontos da Avenida Paulista, na região central de São Paulo. A notícia teve repercussã­o internacio­nal e influencio­u o mercado financeiro do país.

SEM PRISÃO IMEDIATA

Apesar de condenar Lula, o Sérgio Moro não decretou a prisão preventiva e recomendou que se aguarde o julgamento em segunda instância. Moro alegou “prudência” e necessidad­e de se evitar “certos traumas”. “Consideran­do que a prisão cautelar de um ex-presidente da República não deixa de envolver certos SIMPATIZAN­TES DO EX-PRESIDENTE LULA FORAM ÀS RUAS DE GRANDES CIDADES DO PAÍS PARA PROTESTAR CONTRA A DECISÃO DO JUIZ SÉRGIO MORO DE CONDENAR O EX-PRESIDENTE À PRISÃO. traumas, a prudência recomenda que se aguarde o julgamento pela Corte de Apelação antes de se extrair as consequênc­ias próprias da condenação”, escreveu Moro.

Lula só seria preso se o TRF-4 ratificass­e a decisão. Em seu despacho, Moro afirmou que até poderia cogitar a prisão preventiva porque, segundo escreveu o juiz, o comportame­nto do ex-presidente foi de intimidaçã­o, sugerindo até a destruição de provas que poderiam ser usadas na ação penal. “Aliando esse comportame­nto com os episódios de orientação a terceiros para destruição de provas, até caberia cogitar a decretação da prisão preventiva do ex-presidente”, ponderou.

Moro afirmou ainda que a sentença “não traz qualquer satisfação pessoal”. “É de todo lamentável que um ex-presidente da República seja condenado criminalme­nte”, escreveu o juiz. Na acusação envolvendo o armazename­nto de bens do acervo presidenci­al, de 2011 a 2016, Moro absolveu o ex-presidente por falta de provas.

TRIPLEX CONFISCADO

O juiz federal mandou confiscar o triplex 164-A, no Condomínio Solaris, no Guarujá, que a Operação Lava Jato atribui ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O magistrado considerou “desnecessá­ria no mo- OPOSITORES DE LULA E DO PT TAMBÉM FORAM ÀS RUAS ONTEM, SÓ QUE PARA COMEMORAR A CONDENAÇÃO. NA AVENIDA PAULISTA TEVE FOGOS DE ARTIFÍCIO E DISTRIBUIÇ­ÃO DE COXINHAS mento avaliação do bem”.

Sérgio Moro definiu o valor mínimo para reparação dos danos decorrente­s do crime em R$ 16 milhões – a ser corrigido monetariam­ente e agregado de 0,5% de juros simples ao mês a partir de 10 de dezembro de 2009. O montante equivale ao total da “conta corrente geral de propinas do Grupo OAS com agentes do Partido dos Trabalhado­res”. O juiz ainda levantou a apreensão do acervo presidenci­al que se encontra atualmente depositado e lacrado junto ao Sindicato dos Metalúrgic­os do ABC, “não havendo mais motivo para mantê-lo”.

Sérgio Moro condena Lula, mas sem impor a prisão imediata

DEFESA DE LULA

Os advogados de defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva divulgaram nota ontem na qual afirmam que o julgamento que resultou na condenação do petista foi “tendencios­o” e “politicame­nte motivado”. No documento, os advogados Cristiano Zanin Martins e Valeska Teixeira Zanin Martins dizem que “nenhuma evidência crível de culpa foi produzida” e que provarão a inocência do ex-presidente em todas as Cortes “não tendencios­as, incluindo as Nações Unidas”. Em julho do ano passado, a defesa entregou ao Comitê de Direitos Humanos da entidade uma queixa contra o Brasil.

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MIGUEL SCHINCARIO­L/AFP
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MIGUEL SCHINCARIO­L/AFP

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