Brasileiro vai às compras e ajuda economia a reagir
Com mais dinheiro circulando, graças à liberação do FGTS de contas inativas no primeiro semestre, crédito mais em conta com as seguidas reduções da taxa básica de juros, além da inflação sob controle, o brasileiro decidiu ir às compras. O resultado no movimento nas contas do país foi o segundo trimestre consecutivo de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) pela primeira vez em três anos.
O crescimento do PIB do segundo trimestre, de 0,2% em relação ao primeiro trimestre deste ano, foi puxado pelo setor de comércio e serviços e pelo consumo, afirmou, ontem, a coordenadora de Contas Nacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Rebeca Palis. O comércio brasileiro teve alta de 1,9% na comparação com o primeiro trimestre e puxou os serviços. Pelo lado da demanda, o destaque foi o consumo das famílias, que apresentou uma alta de 1,4%
Entre a série de fatores para explicar a alta do consumo das famílias, Rebeca citou a massa salarial crescendo em termos reais, “porque o salário real está crescendo, com a forte desaceleração da inflação”. “O aumento do salário real mais que compensou a queda na ocupação”, afirmou Rebeca, lembrando que houve também o efeito positivo da liberação dos recursos das contas inativas do FGTS.
Outros fatores por trás da alta do consumo são as taxas de juros menores, embora o crédito ainda esteja caindo em termos reais.
No geral, para a pesquisadora, o destaque positivo do PIB do segundo trimestre foi o consumo das famílias, enquanto o destaque negativo foi a queda dos investimentos (de 0,7% ante o primeiro trimestre e de 6,5% em relação ao segundo trimestre de 2016).
Desempregada, a carioca Julia Viana enxergou na liberação dos recursos de contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) uma oportunidade de colocar as pendências em dia. Comprou um sofá-cama, fez a manutenção do carro e investiu num curso para tentar um retorno ao mercado de trabalho. “Eu estava esperando me acertar num novo emprego para fazer essas coisas que vinha adiando, mas veio o dinheiro e resolvi logo”, conta. Julia e milhões de brasileiros voltaram às compras no segundo trimestre do ano.
Consumo e varejo sustentam 2º PIB trimestral positivo consecutivo
TRAJETÓRIA CRESCENTE
O crescimento do PIB do segundo trimestre deste ano confirma a trajetória mais positiva da atividade econômica. “Olhando o ciclo, a partir do segundo semestre do ano passado, estamos em trajetória ascendente”, afirmou Rebeca, mostrando um gráfico com a variação do PIB acumulado em quatro trimestres.
A pesquisadora frisou que o IBGE não data os ciclos econômicos, identificando o término da recessão, mas reconheceu que essa trajetória ascendente é “coerente com a saída de uma recessão”.
CONSTRUÇÃO CIVIL
Para o IBGE, o ajuste fiscal conduzido pelos governos federal e estaduais afetou o desempenho da construção. A construção teve um recuo de 7,0% no segundo trimestre ante o mesmo período do ano passado, a principal contribuição negativa para o PIB industrial,
COMPARAÇÃO ANUAL
A alta de 0,3% no Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre, ante igual período de 2016, foi a primeira variação positiva após 12 trimestres de queda. Já a alta de 0,7% no consumo das famílias, também na comparação anual, foi a primeira após nove quedas. Na contramão, a queda do consumo do governo foi histórica. O tombo de 2,4% só é superado pela queda de 2,8% registrada no quarto trimestre de 2000.