Correio da Bahia

Livro traz poemas e textos de Bukowski sobre os animais que ele mais admirava

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Animais de estimação preferidos dos escritores (e reis das redes sociais), os gatos têm uma imensa galeria de adoradores letrados. Notáveis de variadas nacionalid­ades, como Jorge Luis Borges, Jean Cocteau, T.S. Eliot, Guimarães Rosa, Julio Cortázar, Ray Bradbury, Lygia Fagundes Telles, Raymond Chandler, Ernest Hemingway, Ferreira Gullar, Stephen King e Bukowski. E, obviamente, eles inspiraram textos desses fãs especiais.

Poeta da sarjeta e da ressaca, o alemão-americano Charles Bukowski (1920-1994) chegou a ter vários felinos ao mesmo tempo. Espécie de beat honorário, embora jamais tenha se associado à turma de Jack Kerouac, Burroughs e Allen Ginsberg, o Velho Safado via os peludos ronronante­s como professore­s, sábios, caçadores, misterioso­s, vagabundos e sobreviven­tes - como ele próprio.

Em nova edição que inclui várias fotos de Bukowski com seus felinos, o livro Sobre Gatos (L&PM | R$ 29,90 | 139 páginas | tradução de Rodrigo Breunig) reúne poemas e textos em prosa do escritor sobre esses seres sensíveis cujo olhar inquietant­e parece penetrar as profundeza­s da alma.

Para Abel Debritto, biógrafo do autor, se o personagem Henry Chinaski (protagonis­ta de cinco dos seus livros) era o alterego de Bukowski, os gatos são seu alterego de quatro patas. Ao falar de gatos, o último “maldito” da literatura americana discorria sobre seu assunto predileto: ele mesmo.

“Você tem um gato? Ou gatos? Eles dormem, baby. Eles conseguem dormir vinte horas por dias e são lindões. Sabem que não há motivo algum para grandes exaltações. A próxima refeição. E uma coisinha para matar de vez em quando. Quando estou sendo rasgado pelas forças, simplesmen­te olho para um ou mais dos meus gatos. Há nove deles. Simplesmen­te olho para um deles dormindo ou meio-dormindo e relaxo. Escrever também é meu gato. Escrever me permite encarar a coisa. Esfria minha cuca. Por algum tempo, pelo menos. Aí me dá um curto-circuito e preciso fazer tudo de novo”, diz na página 115.

No poema Nossa Turma, Charles Bukowski enternece e diverte com maestria: “Eu queria batizar nossos gatos de/ Ezra, Céline, Turguêniev/ Ernie, Fiódor e Gertrude/ Mas sendo um cara legal/ deixei minha esposa batizá-los e ficou: Ting, Ding, Beeker/ Bhau, Feather e Beauty./ Nem mesmo um Tolstói no maldito lote todo”. Como resistir? Meow!

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