Correio da Bahia

Aqui e agora

- MILENA TEIXEIRA

Em 1977, dona Mirian Barbosa, hoje com 60 anos, comprou o disco Refavela, do cantor e compositor Gilberto Gil. Na noite de ontem, 40 anos depois da aquisição do LP, ela levou sua mãe, Dionísia Barbosa, 87 anos, e sua filha, Laura Augusto, 24, para assistir ao show que celebrou as quatro décadas do álbum do Gil, na lotada Concha Acústica do TCA.

“Esse show é um resgate da nossa raíz. Essas músicas narram a história de vida dos baianos, que lutam diariament­e”, comentou a contadora Mirian. Por conta da influência da mãe, Laura escuta o disco desde pequena. Emocionada, ela disse: “Estou feliz porque tem gerações da minha família aqui. As narrativas de Gil são simbólicas pra mim, porque elas me contam a história do meu povo e conseguem me dar forças pra continuar lutando”.

Já dona Dionísia aproveitou a ocasião para tietar o anfitrião da festa. Antes do show, ela estava ansiosa para que o cantor entrasse no palco. “Ele [Gil] sabe que eu estou aqui, porque sou muito fã, sabe? Espero que ele me veja”, brincou a aposentada.

A advogada Solange Da- masceno, 81 anos, também conheceu o álbum Refavela quando ainda era jovem. “Eu vi esse disco nascer. Lembro que era um período de muita repressão, por conta da ditadura”, falou. Solange comentou ainda sobre a importânci­a das canções do segundo disco da trilogia Re na sua vida. “Sou negra e nasci em Cosme de Farias, então, quando eu escutava as canções era como se ele estivesse falando pra mim. Ele canta e eu sinto. É uma coisa viva”, completou.

O publicitár­io Fabiano Ribeiro seguiu uma tradição de família ontem. Ele levou seu filho, o pequeno Théo Ribeiro, 3, e sua sobrinha, Mariana, 3, para prestigiar a noite de música. “Quando eu era pequeno, meu pai me levou em um show de Gil e eu nunca mais esqueci. Hoje, eu trago as crianças, porque tenho certeza que um dia elas vão me agradecer por ter assistido um show como esse e com esses artistas”, falou, emocionado.

A família Gil transformo­u o palco da Concha em quintal de casa. Na plateia, mais de 5 mil pessoas assistiram o anfitrião da festa cantar ao lado de amigos, filhos, netos e bisnetos. A filha de Martinho da Vila, Maíra Freitas, e o filho de Caetano Veloso, Moreno dividiram a primeira parte do espetáculo histórico. Já Nara Gil e Ana Cláudia, respectiva­mente filha e nora do compositor Gil, ficaram nos backing vocais.

A banda, formada por Bem Gil (idealizado­r do projeto), Thomas Harres, Thiago de Oliveira, entre outros, completara­m a festa. Mas quem fez sucesso mesmo foi o bisneto do de Gil, Dom (neto de Preta Gil). “Olha como ele canta e dança, né? Já nasceu artista”, comentou a professora Patrícia Oliveira.

Quase no final da festa, Gilberto Gil entrou no palco, colocando toda a Concha para dançar ao som do batuque de Patuscada de Gandhy: “Quando voltei da Nigéria, há cerca de 40 anos, tive a certeza de que não poderia deixar de fazer alguma coisa sobre um lugar que conheci naquele país. Eu comecei a fazer o disco lá mesmo”. Além do clássico afoxé, Gil relembrou também Aqui e Agora, Ilê Aiyê do repertório original. E ainda agraciou o público com a lúdica Sítio do Pica-Pau Amarelo.

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Dionísia, Laura e Mirian: três gerações da mesma família unidas por Gil

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