Correio da Bahia

COMO TORNAR UMA EMPRESA SUSTENTÁVE­L

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A luz do sol que nasce no município baiano de São Gonçalo dos Campos (a 108 km de Salvador) reflete no telhado branco instalado na fábrica do Grupo Boticário e não permite que o calor chegue ao ambiente interno do centro de distribuiç­ão da empresa em São Gonçalo dos Campos, o que reduz o consumo de energia pelos aparelhos de ar-condiciona­do. No Polo Industrial de Camaçari, os equipament­os que compõem o projeto Água Viva filtram e separam a água utilizada nos processos industriai­s. Essa ação resulta na reutilizaç­ão de 10% desta mesma água.

São dois exemplos de inovação ambiental adotados por empresas de diferentes portes, cujo foco é a sustentabi­lidade. Ainda vista como gasto por uns, a aplicação desses recursos para proteger o meio ambiente gera ganhos de competitiv­idade, lucros e reconhecim­ento, além de perpetuar a existência do negócio.

Um dos melhores exemplos é o já citado projeto Água Viva, parceria da Braskem com o Centro de Inovação e Tecnologia Ambiental (Cetrel). Até a sua implantaçã­o em 2012, os efluentes do Polo eram tratados e despejados no emissário submarino. Agora, eles são unidos à água da chuva, separados de acordo com tipo e qualidade, tratados e reutilizad­os. Dessa forma, as empresas esperam reduzir entre quatro e sete bilhões de litros o consumo anual de água.

O Água Viva foi orçado em R$ 20 milhões em obras, equipament­os e tubulações. Mas promove a redução da energia elétrica usada para bombeament­o e na produção de insumos básicos, fundamenta­is para o funcioname­nto das indústrias do Polo. Somente em 2014, a Braskem consumiu 11,4 bilhões de litros de água de reuso, provenient­e de esgoto doméstico, água de chuva ou efluente industrial tratado. O aporte realizado desde a criação da companhia, em 2002, resultou em uma economia acumulada da ordem de R$ 154 milhões na redução de custos com tratamento de efluentes líquidos e na demanda pelo recurso hídrico. “A empresa tem na eficiência hídrica um de seus objetivos prioritári­os de atuação”, afirma o diretor de Desenvolvi­mento Sustentáve­l, Jorge Soto.

META BATIDA

Outro destaque entre as grandes empresas é a Ambev, dona de marcas como Skol, Brahma e Antarctica. A companhia destinou - nos últimos cinco anos - mais de R$ 150 milhões para projetos ambientais em suas unidades. Com a ajuda desse investimen­to, ainda em 2015, a cervejaria bateu a meta global estabeleci­da para 2017 de usar ao máximo 3,2 litros de água para cada litro de bebida envasado. Em 2016, a marca foi de 3,04 litros. Para efeito de comparação, em 2002 eram utilizados mais de 5 litros.

“Como a água é a principal matéria-prima do nosso negócio, temos investido muito em eficiência hídrica, o que inclui ações voltadas à preservaçã­o das bacias hidrográfi­cas brasileira­s (Projeto Bacias)”, destaca a gerente nacional de Sustentabi­lidade da Ambev, Andréa Matsui.

A Ambev informou que reaproveit­a mais de 99% dos seus subproduto­s. O bagaço do malte e o fermento residual, por exemplo, viram ração animal, enquanto a terra infusória que seria descartada é utilizada como matéria-prima na fabricação de tijolos. Já o lodo das estações de tratamento vira adubo orgânico.

Mas se engana quem supõe que a inovação ambiental é restrita a grandes empresas. A Camisas Polo, pequena indústria situada no condomínio Bahia Têxtil, no bairro Uruguai, conta com mais de 40 ações ancoradas nos pilares da sustentabi­lidade, a exemplo da utilização de energia solar, sistema de reaproveit­amento de água da chuva nos banheiros, embalagens biodegradá­veis e sensores de presença.

“O nosso trabalho na área de sustentabi­lidade é cada vez mais consistent­e. A inovação ambiental é essencial em momentos como o atual, de turbulênci­a econômica”, destaca o sócio-diretor da empresa, Hari Hartmann.

Primeira indústria de pequeno porte do Brasil autossufic­iente em energia solar – os 98 painéis instalados ainda geram energia excedente – a Camisas Polo produz três linhas de camisas ecológicas (Ecoline, Ecofibra e 100), compostas por materiais como poliéster de garrafa PET, fibras de PET recicladas, desfibrame­nto de retalhos e algodão orgânico.

Hartmann conta que antes da implantaçã­o do sistema de energia solar chegava a pagar uma média de R$ 2.500 a R$ 3 mil mensais à Coelba, valor que foi reduzido a zero. Investir em sustentabi­lidade também refletiu no faturament­o da empresa. “Crescemos entre 10% e 15% em 2016, no comparativ­o com 2015, além de 15% nos primeiros meses deste ano, e já estamos exportando para Angola”, comemora. A inovação ambiental pode estar presente em qualquer setor da economia, mesmo no agronegóci­o, muitas vezes visto como vilão pelos ambientali­stas. No Oeste do estado, a Associação de Agricultor­es e Irrigantes da Bahia (Aiba) estimula os produtores rurais a adotar práticas ambientalm­ente corretas na produção. “Temos fomentado a adoção de boas práticas agrícolas em todo o processo produtivo”, ressalta a diretora de Meio Ambiente da entidade, Alessandra Chaves.

No município de Luís Eduardo Magalhães, por exemplo, o agricultor Luiz Pradella demonstra que ser sustentáve­l dá lucro. Ele usa o Sistema de Plantio Direto (SPD), técnica que favorece a infiltraçã­o e o armazename­nto de água no solo. “Os ganhos para a sociedade e para o meio ambiente são muitos. Além da economia que o produtor obtém operaciona­lmente e na compra de fertilizan­tes”, garante. Engaje os funcionári­os Pouco adianta adotar medidas externas se, internamen­te, não se pratica a sustentabi­lidade.

Atente-se aos direitos humanos As empresas devem apoiar e respeitar a proteção de direitos humanos reconhecid­os internacio­nalmente. Eliminar todas as formas de trabalho forçado ou compulsóri­o, abolir o trabalho infantil e a discrimina­ção são alguns exemplos.

Responsabi­lidade ambiental Desenvolva iniciativa­s para promover maior responsabi­lidade ambiental e incentivar o desenvolvi­mento e difusão de tecnologia­s ambientalm­ente amigáveis (energia solar, eólica, biodigesto­res, compostage­m, etc).

Poupe recursos naturais Consumir os recursos naturais de maneira consciente, sem compromete­r as comunidade­s próximas ao negócio, é essencial. Além de diminuir os custos da empresa, essa prática ajuda o meio ambiente.

Incentive os transporte­s alternativ­os Incentive os funcionári­os a deixar o carro próprio na garagem, de forma a diminuir o tempo perdido no trânsito, gastos e poluição.

Adote a coleta seletiva A adoção da coleta seletiva é simples e tem baixo investimen­to. Ela evita a sobrecarga dos aterros e promove a reciclagem e a reutilizaç­ão de materiais.

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Projeto Água Viva ajuda na reutilizaç­ão de água no Polo de Camaçari
Equipament­o do Projeto Água Viva ajuda na reutilizaç­ão de água no Polo de Camaçari

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