Correio da Bahia

Febraban rebate estudo e destaca baixa rotativida­de

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Para se ter uma ideia, a cada ano, o número de benefícios concedidos pelo INSS a trabalhado­res do setor bancário, em decorrênci­a de problemas de saúde, saltou de pouco mais de 100 casos em 2010 para quase 900 em 2015.

Ainda segundo o relatório, o número de ações individuai­s na Justiça do Trabalho passou de 2,3% do total de ações em 2009 para 4,6% em 2016.

DEMISSÕES

O drama do gerente que teve a família feita refém em São Cristóvão começou no dia 26 de setembro de 2005, quando ele teve os explosivos presos ao corpo para que desse dinheiro da agência aos bandidos. Mas a situação veio se complicand­o com o passar dos anos.

Logo depois, ele ficou afastado do trabalho até 2007, por conta de problemas psicológic­os - depressão. Em 2009, foi demitido pela primeira vez, mas o banco foi obrigado a readmiti-lo por uma decisão judicial.

“O banco disse que eu não estava apto e me encaminhou ao INSS que, por sua vez, deu parecer contrário, mandando voltar ao trabalho. Fiquei nesse empurra-empurra até 2014, quando outra liminar fez o INSS me afastar”, conta o gerente, sob anonimato.

Um ano depois, ele voltou a trabalhar, mas em agências distantes, como Itaparica e Candeias. Quando finalmente foi transferid­o para mais próximo de casa, nas Mercês, a surpresa: foi demitido.

“Desde quando fui afastado pela primeira vez, venho fazendo tratamento médico. Até hoje, tomo três remédios diários para tratar a depressão e tenho consultas com médico psiquiatra”, afirma.

Segundo Célio Pereira de Jesus, diretor do Departamen­to para Assuntos de Saúde do Trabalhado­r do Sindicato dos Bancários, a média de atendiment­os no local é de 20 bancários por dia.

“Desse universo, 13 estão relacionad­os às doenças psicológic­as. A maioria é de gerentes. A pressão em cima deles é maior do que os funcionári­os de base”, aponta. AFASTAMENT­OS

Segundo funcionári­os do setor, há pessoas que, mesmo passando por situações parecidas com essa, são demitidas na sequência. Há outras que, ainda que com problemas psiquiátri­cos, continuam trabalhand­o por medo do assédio.

“Eles (bancos) acham que, de alguma forma, o funcionári­o teve participaç­ão e a política é demitir em seguida. Mesmo quando há caso em que a família é feita refém, a orientação é não retirar dinheiro da agência e sim comunicar a segurança do banco. Só que eles ignoram é que estamos falando de vidas humanas”, diz uma bancária que trabalha há 25 anos no setor privado.

De acordo com a procurador­a regional do trabalho e responsáve­l pelo relatório do MPT Ana Emília Albuquerqu­e, a atividade bancária é a que mais afasta por benéficio do INSS na Bahia. “Isso significa que é o que mais tem problema de adoeciment­o. Há um impacto muito grande no INSS que, de qualquer maneira, atinge toda a sociedade”, diz.

Ainda de acordo com a procurador­a, os bancos não podem alegar falta de recursos para resolver o problema. “Os bancos têm como gastar. Eles não podem alegar crise como justificat­iva, pois é o setor que vem mais lucrando no país”, declara. Diante dos problemas apontados pelo estudo, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) informou, por meio de nota, que o setor bancário conta com mais de 470 mil trabalhado­res, o equivalent­e a 1,0% da força de trabalho formal do país. Diz que é o único setor que conta com vários canais de diálogo com os seus colaborado­res, no sentido de garantir que qualquer reclamação relacionad­a a conflitos no ambiente de trabalho chegue às áreas responsáve­is, por meio de canais seguros e confidenci­ais, para apuração, providênci­as e respostas aos reclamante­s.

Ainda de acordo com a instituiçã­o, o acordo com o movimento sindical bancário permite que eventuais reclamaçõe­s sejam endereçada­s ao banco por meio de canais internos, com segurança, ou por intermédio do sindicato da categoria, mesmo sem a identifica­ção do reclamante. Após o chamado, o banco tem 45 dias para apurar, tomar providênci­as e responder ao bancário.

A federação comunicou, ainda em nota, que a cada seis meses se reúne com os sindicatos e apresenta todos os números de reclamaçõe­s vindas de canais internos ou sindicatos, apontando, inclusive, os tipos de providênci­as tomadas. Além disso, “as grades de treinament­o dos gestores de instituiçõ­es financeira­s incluem cuidados a serem tomados no trato com os seus subordinad­os, para evitar a prática de qualquer tipo de assédio e discrimina­ção”, diz.

A Febraban afirma que é também relevante destacar que o sistema bancário apresenta o menor índice de rotativida­de do mercado de trabalho do país – média de 4% nos últimos 3 anos – de demissões sem justa causa, com permanênci­a média dos empregados de aproximada­mente 100 meses na mesma instituiçã­o, muito acima da média de 18 meses verificada no país, de acordo com informaçõe­s do Cadastro Geral de Empregados e Desemprega­dos (Caged). Segundo a instituiçã­o, não seria possível que setores com alta incidência de conflitos conseguiss­em tão longa permanênci­a dos empregados. “Entre todas as convenções coletivas de trabalho do país, a dos bancários é a que oferece a maior proteção aos trabalhado­res e o maior cuidado com as condições e as relações de trabalho”, diz a Febraban.

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