Uma luz contra o império da mentira
A ascensão das redes sociais como fonte de informação em larga escala trouxe como aspecto negativo a proliferação das chamadas “fake news”. Traduzido do inglês, o termo que se tornou comum no vocabulário cotidiano serve para designar as notícias falsas. Em especial, sobre assuntos políticos, esfera onde se multiplicaram feito erva daninha, com impacto decisivo em campanhas eleitorais aqui e nos Estados Unidos. No império da mentira, o que os teóricos das Ciências Humanas classificam como a era da pós-verdade, renasceu a importância da imprensa tradicional como fonte de informação verdadeira.
Uma pesquisa publicada na terça-feira passada pela Kantar, líder mundial em análise de dados e parceira do Ibope, mostra que o avanço das “fake news” reforçam a confiança em veículos de imprensa já consolidados. A conclusão é fundamentada em duas cosntatações que brotam do estudo, elaborado a partir de entrevistas com oito mil pessoas sobre a cobertura jornalística de política e eleições no Brasil, França, Reino Unido e EUA.
A primeira delas: a reputação dos veículos tradicionais da mídia impressa e canais de TV e rádio provou ser mais resistente que a de plataformas digitais ou veículos de notícias exclusivamente online. O que se dá, segundo a Kantar, pela profundidade da cobertura oferecida. A segunda: o público considera o jornalismo crucial para a saúde da democracia, embora tenha se tornado mais cético em relação ao que é veiculado.
Tanto no Brasil quanto nos EUA, os números obtidos pela Kantar revelaram alto percentual de pessoas que consideram as “fake news” responsáveis por afetar decisões políticas e os resultados das últimas eleições. Os índices obtidos na pesquisa refletem o uso ostensivo de informações falsas nas disputas presidenciais vencidas por Dilma Rousseff e Donald Trump, os dois políticos que melhor surfaram a onda de mentiras, através da adesão de hordas de militantes digitais dispostos a tudo para levar seus líderes à vitória.
O tsunami de notícias falsas cresceu de tal modo sobre o universo político que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tem como prioridade adotar mecanismo capazes de freá-las durante a corrida eleitoral de 2018, quando se espera uma avalanche delas nas redes sociais e aplicativos de mensagens instantâneas. Ao mesmo tempo, já se desenha no Supremo Tribunal Federal um apoio substancial a leis que barrem a disseminação da boataria online ao longo da próxima sucessão.
Tais instrumentos são, indubitavelmente, de grande valia. Por si só, contudo, são insuficientes para dar conta do tamanho do mal. Ajuda, mas não elimina. É ingenuidade achar que candidatos interessados em manter ou retomar o poder recuariam diante de ferramentas legais. Basta ver a aposta diária que políticos com intenções nada republicanas fazem nas “fake news”.
Num ambiente democrático, a melhor forma de combater a falsidade nas informações é proteger e estimular veículos que sobrevivem às custas da credibilidade construída por décadas de trabalho. Independente do formato que estejam hoje ou amanhã, são eles que conseguem separar joios e trigos.