Novembro negro
O inhame de Oxaguiã, o acarajé de Iansã, as misturas musicais dos atabaques sagrados, o jeito de ser e a alegria de viver... são tantos os traços culturais que nos unem à Nigéria! A Salvador iorubá estará muito bem representada na Copa do Mundo da Rússia em 2018.
Os super-eagles voam alto. Já classificados, após a vitória por 1x0 sobre a Zâmbia, os nigerianos garantiram vaga antes de visitarem a Argélia, já eliminada. Campeões olímpicos, os nigerianos estão amadurecendo para ganhar o mundo. Está demorando já!
Salvador e Nigéria estão juntas pela presença de um encantado: um dos maiores ídolos do Vitória veio de lá e terminou se enturmando tão bem que fixou residência por aqui. Ricky, na corrida, não tinha zagueiro que se ousasse: Rei, rei, Ricky é nosso rei!
Depois da Nigéria, a seleção do Senegal será mais uma negra classificada se vencer a África do Sul, sexta-feira agora, em jogo repetido por suspeita de arbitragem-fraude no anterior. Burkina Faso, que vem crescendo, e Cabo Verde torcem pela derrota do Senegal.
Sené-Sené-Senegal é conhecido na voz de Julinho Cavalcanti, da Banda Reflexu’s, uma das pioneiras do gênero chamado axé music. A resistência do Ilê Aiyê, no Curuzu, e a grandeza do negro valorizada na música fortaleceram o combate ao racismo em Salvador.
A letra fácil e direta do Canto para o Senegal dá o maior valor à luta do negro. O baobá, árvore sagrada para os senegaleses, é reverenciada pelos herdeiros baianos da cruel e odiosa diáspora, cujos efeitos voltaram no Brasil atual em inacreditáveis flash-backs.
Diáspora é como chamamos a vinda forçada de gente africana que teve seu sangue chupado pelos vampirões donos dos engenhos. Escravidão que deixou rastros na discriminação e na desigual distribuição de oportunidades que é nossa grande tristeza.
O Novembro Negro da Copa terá a possibilidade de classificação da Costa do Marfim, que depende de seu resultado com o Marrocos, em Abidjan. Os elefantes de nosso saudoso prof. Mohamed precisam vencer, mas o adversário não é fraco, não. Jogaço pra pirão.
Negro desde os primeiros faraós núbios, o Egito também garantiu vaga: país de cultura admirável, já sabia construir pirâmides 2.600 anos antes de Cristo, enquanto nós, aqui, agora, pleno 2017, batemos lajes quase perfeitas e inventamos engenhosos puxadinhos.
É uma alegria ter o Egito presente, lembrando que foi a primeira seleção da África a participar da Copa, ao ser eliminado, roubado, pela Hungria. Foi nos idos de 1934, na Itália de Mussolini, pouco antes da covarde invasão da terra-mãe Etiópia pelos fascistas.
Outra seleção do Norte da África, a Tunísia está prestes a pedir matrícula na Rússia 2018: basta um empatezinho de nada diante da lanterna Líbia. Difícil deixar escapar esta vaga, jogando em casa, embora a zebra seja um animal originário do continente africano.
A África joga com alegria, espontaneidade, promove espetáculos de dança e arte, as torcidas são festeiras, coloridas, animadíssimas, apesar das guerras e da fome semeadas pelos colonizadores, que ainda hoje “queixam” de levar africanos para melhorar seus times.
Os jogos entre seleções africanas costumam ser movimentados e divertidos; de vez em quando é possível curtir um lance mais inusitado, raro, imprevisível. Vamos conferir nos próximos dias as três seleções que estarão com nossa Nigéria e o Egito na Rússia 2018.