Começou a debandada
Em meio às discussões do PSDB sobre o melhor momento para a entrega dos cargos no governo do presidente Michel Temer, o primeiro tucano deixou o cargo ontem. Um pouco antes de participar de cerimônia simbólica de entrega do Cartão Reforma no Planalto, o ministro das Cidades, Bruno Araújo, teve uma conversa com Michel Temer e pediu a exoneração.
Na carta entregue ao presidente, Araújo diz que “não há mais apoio” para ele seguir na pasta e fala indiretamente da crise vivida no PSDB. “Agradeço a confiança do meu partido, no qual exerci toda a minha vida pública, e já não há mais nele apoio no tamanho que permita seguir nessa tarefa”, escreveu. A pasta está sendo cobiçada por aliados da base insatisfeitos com o espaço no governo e que pedem a mudança administrativa em troca de aprovar projetos de interesse do governo como a reforma da previdência.
“A serenidade da história vai reconhecer no seu governo resultados profundamente positivos para a sociedade brasileira. Receba minha exoneração e meus agradecimentos”, completa o deputado pernambucano, que estava licenciado, na carta a Temer.
Bruno Araújo citou o ex-presidente Fernando Henrique, um dos principais líderes tucano e defensor do desembarque da sigla do governo Temer. Disse que, em maio do ano passado, aceitou o convite “para ajudar o país no processo de transição que permitisse, nas palavras do ex-presidente Fernando Henrique, ‘repor em marcha o governo federal’ e preparar o país para o seu próximo líder a ser eleito daqui a alguns meses”.
Alegando não ter apoio do partido, ministro entrega cargo a Temer
AVALIAÇÃO DO TRABALHO Bruno Araújo, que discursou no evento no Planalto, afirmou que sob seu comando o Ministério das Cidades avançou em governança. “Recuperamos o Minha Casa, Minha Vida e a credibilidade nos compromissos financeiros. Implantamos duas ações que vão deixar marcas relevantes no desenvolvimento social do país: o Cartão Reforma e a Nova Legislação de Regularização Fundiária”, escreveu.
“Preciso agradecer o apoio de toda nossa competente equipe nessas realizações, e de modo especial a sua confiança, que de trato sempre fidalgo e republicano, permanentemente nos deu autonomia em busca da melhor entrega possível à população brasileira”, completou.
O agora ex-ministro afirmou que há ainda muito o que se fazer. “O país responde rapidamente ao comando da boa gestão, testemunhei isso. É hora das prioridades serem mais da sociedade e menos das corporações. É fundamental coragem de todos para os enfrentamentos que protejam as necessidades dos que não conseguem faltar ao trabalho para vir a Brasília clamar por melhores serviços públicos”.
SEM FISIOLOGIA
O líder do PSDB no Senado, Paulo Bauer (SC) disse ontem que a saída do tucano Bruno Araújo do Ministério das Cidades demonstra que o partido “não tem nenhum apego aos cargos” do governo, nem os coloca “como condição de apoio” para votações. Bauer relembrou que, assim como o ex-tucano e atual ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, Araújo sai “pela porta da frente” e “sem reclamações”.
“Bruno fez belo trabalho, cumpriu bem com as suas obrigações”, elogiou. Por meio de nota, Bauer afirmou ainda que é preciso “respeitar” a decisão de Araújo, sem mencionar o possível desembarque do partido da base aliada. “O PSDB contribuiu e ainda contribui de forma substantiva para que o Brasil vença de forma substantiva as dificuldades que o governo do PT deixou para o país”, disse.