Correio da Bahia

O Compliance Familiar

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Ultimament­e, o que mais se ouve e se discute nos meios acadêmicos, empresaria­is ou na mídia em geral é um “tal de Compliance”. A corrupção que se tornou sistêmica no nosso país fez esse termo conhecido na sociedade e muito citado nos meios de comunicaçã­o.

Compliance nada mais é que um conjunto de disciplina­s para se fazer cumprir as leis e regulament­os e, especialme­nte, acompanhar as condutas dos colaborado­res de uma determinad­a empresa no campo ético, sobretudo nas relações com os agentes públicos, uma vez que os contratos firmados passaram a ser fonte de enriquecim­ento ilícito para ambas as partes.

Fala-se em controle dos servidores públicos através das corregedor­ias, sustenta-se a necessidad­e de acompanham­ento dos colaborado­res nas empresas privadas, mas pouco se reflete sobre o verdadeiro controle que foi negligenci­ado nas últimas décadas, o que chamo de “Compliance Familiar”. Através desse conceito, o cidadão deve ser “moldado” em casa. O bom exemplo, o acompanham­ento e o controle de condutas éticas deve se iniciar na família, com o monitorame­nto diuturno dos pais junto aos seus filhos, sejam crianças ou adolescent­es.

Um exemplo de um pai ou de uma mãe, por menor que seja, um corretivo na hora certa de um pequeno desvio farão com que o futuro adulto, no momento em que se inserir no mercado de trabalho, tanto no serviço público como no privado, possua bem definido e consolidad­o na sua formação moral o que é ético e o que é certo. Desse modo, as leis, normas, regulament­os, etc. que buscam impor condutas e sanções “serão meras letras mortas”, em função do “Compliance Familiar” a que o indivíduo foi submetido.

Claro que a boa formação educaciona­l desde o ensino básico ao curso superior, com conteúdo didático e bons educadores, complement­ará os ensinament­os e aconselham­entos caseiros, mas nunca substituir­á a educação doméstica oriunda da família, fincada nos exemplos dos pais e, sobretudo, no acompanham­ento do que a criança ou adolescent­e faz no dia a dia.

Não é à toa que os países com baixíssimo­s índices de corrupção, a exemplo da Dinamarca, Finlândia e Suécia, possuem o que aqui batizamos de “Compliance Familiar” como valor precípuo e essencial de uma sociedade civilizada, aliado a um sistema educaciona­l de qualidade, priorizado e disponibil­izado pelo Estado. Precisamos, com a máxima urgência, resgatar esses valores e controles nas nossas famílias, sob pena de que o sistema correciona­l, o Compliance tradiciona­l e/ou o sistema de segurança/prisional não consigam combater de forma eficaz os efeitos deletérios da corrupção endêmica e da criminalid­ade como um todo que, infelizmen­te, assola o nosso país.

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