Correio da Bahia

VIVENDO DO JOGO

- Luan.santos@redebahia.com.br

Foi em um jogo do Vitória, no Barradão, em 2012, que a vida de Rodrigo Fernandes, 28 anos, mudou. Antes de entrar no estádio, ele viu um outdoor que o fez fechar um mercadinho que tinha em Salvador para viver de futebol. Mas calma: não foi dentro das quatro linhas, mas atuando na chamada bolsa esportiva, um grande mercado virtual que movimenta bilhões de dólares pelo mundo anualmente.

“Estava saindo do estádio e vi uma placa publicitár­ia da Sporting Bet (uma das mais tradiciona­is casas de apostas do mundo). Me interessei, criei uma conta e comecei a conhecer esse mundo”, conta Rodrigo, que começou a estudar por vídeos no Youtube e materiais disponívei­s na internet. Mas foi em setembro do ano passado que veio o “up” da carreira dele como trader, ou investidor, durante um curso profission­al que fez em São Paulo.

Convicto de que o mundo das apostas esportivas é promissor, fechou o negócio e passou a se dedicar ao trading - como é chamada a operação no mercado das apostas online, que se assemelha à Bolsa de Valores. Agora, trabalha em casa em uma mesa com quatro telas diferentes para assistir aos jogos e operar no mundo das ações esportivas.

Histórias como a de Rodrigo têm se tornado cada vez mais frequentes com a expansão das casas de apostas online no Brasil e a consequent­e formação dos traders profission­ais da bolsa esportiva. Quem se dedica exclusivam­ente a isso garante que o negócio é lucrativo. Seis baianos ouvidos pelo CORREIO que vivem do negócio virtual garantem que os lucros giram entre 10% e 50% do valor investido mensalment­e, podendo ultrapassa­r os 1.000% em casos excepciona­is. Se aplicam, por exemplo, R$ 10 mil no mês, conseguem entre R$ 1 mil e R$ 5 mil de lucro.

COMO NA BOLSA

O trading esportivo tem funcioname­nto parecido com a Bolsa de Valores. Nele, as ações das empresas são substituíd­as por partidas esportivas - não apenas de futebol -, que oferecem centenas de possibilid­ades para investimen­to. No caso do futebol, esporte mais popular no Brasil, é possível apostar em número de gols, vencedor da partida, escanteios e até tentar cravar o resultado do jogo.

A principal casa de aposta utilizada pelos traders é a britânica Betfair, que patrocina grandes times como Barcelona e Juventus. Outra casa tradiciona­l é a Bet365, patrocinad­ora do Real Madrid. Por meio delas, é possível fazer as operações de compra e venda, antes e ao longo dos jogos e conseguir greens (lucro) ou reds (prejuízo).

Se antes, no mercadinho, Rodrigo trabalhava das 7h às 21h, agora sua rotina de trabalho só começa às 13h. “É quando vou me dedicar às análises, acompanhar as partidas. Costumo fazer três ou quatro jogos por dia”, diz. Os grandes campeonato­s europeus são os seus favoritos por terem maior liquidez - ou seja, mais dinheiro envolvido nas apostas.

TEM QUE ESTUDAR

O contador Celso Nunes, 46, seguiu passos parecidos como os de Rodrigo. A diferença é que a jornada dele começou recentemen­te, no final do ano passado, por meio de um amigo. Passou parte do tempo estudando e, há seis meses, iniciou as apostas.

Hoje tem seis amigos-investidor­es que apostam com ele. “Eu garanto a cada um deles 20% de lucro por mês e o restante é meu. Consigo ter entre 2% e 5% de lucro por dia. Em média, consigo ficar com 40% ou 50% do valor investido por mês”, explica, evitando falar em valores. Por exemplo, se cada um investe R$ 1 mil, o lucro dele chega a R$ 3 mil, enquanto cada investidor fica com R$ 200 de saldo positivo. Além de futebol, ele conta que gosta de apostar também em jogos de basquete e vôlei.

Antes de se dedicar só ao trading, Celso atuava como corretor de imóveis. Voltar ao mercado de trabalho tradiciona­l, por enquanto, está fora de cogitação. “No mercado tradiciona­l, ganharia entre R$ 2 mil e R$ 2,5 mil como gerente financeiro de uma empresa. Com o trading, já passei desse valor”, revela.

A rotina de trabalho dele começa às 6h, com a análise dos jogos, e se estende até as 13h com as operações. “É preciso analisar, buscar informaçõe­s nos meios de comunicaçã­o locais, saber como os times vão jogar. Tem que ter tempo para pesquisar para fazer as melhores análises”, pontua. Principal casa de aposta; é britânica e patrocina grandes times como Barcelona e Juventus Tradiciona­l casa de aposta, patrocinad­ora do Real Madrid; emprega mais de 3.000 colaborado­res e tem mais de 22 milhões de clientes Opera em 26 países com mais de 700 mil usuários ativos. São mais de oito mil tipos de apostas todos os dias em mais de 30 esportes

É uma das mais recentes casas de apostas, inaugurada em 2013, em Curaçao. A versão em português é direcionad­a ao público brasileiro.

ESTRATÉGIA

Já Anttenor Filho planeja viver apenas da bolsa esportiva, que hoje já representa mais da metade de sua renda mensal. Ele opera no mercado há dois anos. “No começo, eu trabalhava o dia inteiro e acabava não tendo muito tempo para fazer as análises. Fui demitido e passei a me dedicar, e os resultados melhoraram muito”, conta ele, que mora em Luís Eduardo Magalhães, no Oeste baiano.

Também do interior, o comerciant­e Sílvio Nunes, 34, tem um mercado em Senhor do Bonfim. Ele tem o trading como segunda principal fonte de renda, mas quer transformá-la em primeira. Além das apostas diárias, dá consultori­a para pessoas que querem apostar, mas não têm tempo para realizar análises. Por meio de um grupo no WhatsApp, ele fornece dicas diariament­e para mais de 50 pessoas, que pagam R$ 30 pelo serviço mensalment­e. “Já cheguei a ter 7.000% de lucro em um mês e 300% em outro”.

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