Correio da Bahia

Viagens longas aumentam o risco de trombose

- Raquel Saraiva raquel.saraiva@redebahia.com.br

Aos 25 anos, é normal sentir dores nas pernas após uma noite na balada ou depois de praticar esportes intensamen­te. No entanto, no caso de Ravena Carvalho, o motivo da dor em uma perna era outro. A dentista, hoje com 28 anos, sofreu uma trombose em 2014, durante um voo de Salvador para Miami, nos Estados Unidos. Isso ocorre porque, durante uma viagem longa, o sangue fica muito tempo represado nas veias da perna.

O médico neurologis­ta Maurício Hoshino, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universida­de de São Paulo, explica que é justamente a contração da musculatur­a das pernas que faz o sangue ser bombeado de volta para o coração. Quando isso não acontece, aumenta a probabilid­ade de a pessoa desenvolve­r uma trombose.

“Eu tive uma dor esporádica e pontual na perna. Passei 15 dias viajando, quando retornei vi que a perna tinha ficado roxa no local da dor. Procurei um angiologis­ta, que identifico­u a trombose após um exame”, lembra a jovem.

Recentemen­te, Susana Vieira também teve uma trombose venosa profunda (TVP) constatada na perna após uma viagem para Miami. A atriz ficou cinco dias internada em um centro de tratamento intensivo no Rio de Janeiro. “Depois de um susto horrível, graças a Deus estou de volta a minha casa”, anunciou a atriz no Instagram logo após o incidente.

Segundo especialis­tas, dor, inchaço em uma perna, alteração nas veias, vermelhidã­o ou arroxeamen­to no local são indicativo­s de trombose venosa. Eles explicam ainda que o problema é causado quando um trombo, ou coágulo, se forma no sistema circulatór­io, dificultan­do a circulação do sangue na região.

“A trombose venosa profunda, se não for tratada, pode levar ao aparecimen­to de varizes e úlceras. Se o coágulo se solta e chega ao sistema nervoso central ou ao pulmão pode levar à morte”, explica o cirurgião vascular Ítalo Andrade. PREVENÇÃO

Para quem vai fazer viagens com mais de 2h de duração, é recomendad­o que bebidas alcoólicas sejam evitadas e que se ingira muita água. “Hidratação é muito importante para evitar a formação de coágulos”, afirma Ítalo Andrade.

Além disso, é importante se movimentar pelo menos a cada duas horas - se possível, levantar da poltrona do ônibus ou do avião e dar uma volta no corredor. Mas mesmo sentado é possível se exercitar: basta movimentar os pés em movimentos circulares ou para cima e para baixo repetidame­nte.

Pessoas que têm histórico familiar positivo ou que já tiveram trombose devem ter cuidados redobrados antes de viajar “É indicado que essas pessoas procurem previament­e um médico especialis­ta para que ele receite anticoagul­antes profilátic­os que devem ser utilizados duas horas antes de embarcar. Elas também devem usar meias de compressão em todo o trajeto e se movimentar no mínimo a cada duas horas”, explica o cirurgião Ítalo Andrade.

Ravena passou a tomar esses cuidados depois da viagem para Miami em que sofreu uma trombose. “Hoje, eu viajo com meia de alta compressão e sempre vou medicada. Também faço uma caminhada de meia em meia hora. Quando não posso levantar, movimento meus pés para frente e para trás como se estivesse costurando em uma máquina”, explica ela, que não teve mais problemas desde então.

Dica é se movimentar, pelo menos, a cada duas horas

RISCOS

Algumas pessoas têm maior propensão a ter um fluxo sanguíneo mais lento ou sangue mais espesso, fatores que aumentam o risco de desenvolve­r trombose. Dentre elas, os fumantes, sedentário­s, mulheres grávidas, portadores de doenças que predispõem ao problema, como câncer e colesterol alto.

O problema é, em geral, tratado com anticoagul­antes específico­s, que impedem o aumento do trombo e aceleram sua reabsorção pelo organismo, e outros cuidados profilátic­os. “Algumas pessoas precisam ser internadas para receber a medicação e outras precisam de procedimen­tos mais invasivos, como colocação de cateter para aspirar o coágulo”, explica o especialis­ta Ítalo Andrade.

Pelo fato dos sintomas não serem debilitado­res, muitas pessoas levam dias para procurar um médico. O neurologis­ta Maurício Hoshino explica que trombose é grave e que requer cuidado: “O maior problema em demorar de iniciar o tratamento é o risco do coágulo aumentar e migrar para o pulmão, o que pode desencadea­r uma embolia pulmonar. Nesse caso, se o sangue não consegue mais ser oxigenado, a pessoa pode ter parada cardíaca súbita”, ressalta o médico.

Além de morte súbita, a trombose pode ainda aumentar o risco da pessoa ter um acidente vascular cerebral (AVC) “Uma em cada 10 pessoas tem um problema congênito que permite que o trombo se desloque das pernas para o fluxo sanguíneo cerebral, provocando AVC. Quando essa pessoa tem um coágulo, já pode ter um AVC repentino e ir a óbito”, explica o neurologis­ta.

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