Novo álbum do Àttøøxxá destaca o samba
Nos ensaios do grupo, inclusive, as mulheres metem dança mesmo, atocham, botam pagodão e fazem até uma versão para o trecho “não tô nem aí, tô a fim de olhar”: elas gostam e cantam “não tô nem aí, tô a fim de mostrar”. De shortinho, bem coladinho, a estudante Elena Vasconcelos, 23 anos, garante que o tema é necessário.
“É uma questão importante que precisa ser trazida, principalmente, no pagode que está sendo mal interpretado por pessoas conservadoras”, defende Elena. “É positivo, porque o tempo vai mudando. É a evolução da sociedade que aceita, ou não, o machismo, o racismo...”, ressalta o também estudante Leonardo Luciano, 23.
Mesmo com cuidado do Àttøøxxá em suas letras, o cantor Raoni, 27, pontua que o preconceito está longe de acabar. “Isso nunca vai acontecer, a gente sabe. Tanto quanto o preconceito contra o homossexual e o racismo. A mulher sempre foi colocada no segundo plano, a própria bíblia fazia isso para deixar o poder concentrado na mão de homens”, critica.
Mesmo assim, o grupo se preocupa em compartilhar seu posicionamento político com outros grupos de pagode. Da mesma forma, faz questão de acolher um público heterogêneo em seus ensaios, o que inclui o universo feminista, LGBT+ e negro. Esse, ressalta Rafa, é um dos motivos para o sucesso do grupo.
“Está dentro da onda que a gente está plantando de tratar as pessoas de forma igual, de tratar bem. Faz parte disso. A forma que a gente trata e vê o mundo é muito aberta, sabe? A gente abraça mesmo. E quem não gosta de um abraço, né, pai?”, sorri. Depois de lançar o álbum Blvck Bvng, que inclui o hit Elas Gostam (Popa da Bunda), e um EP com as músicas Rebola a Raba e Tá Batenu, o Àttøøxxá já está planejando o próximo trabalho: Luv
Box. Ao contrário do pagodão que lançou o grupo, o novo disco previsto para o pós-Carnaval vai valorizar o samba. Como o primeiro apresentou Osmar ‘Oz’ no vocal, o segundo terá à frente o cantor Raoni Knalha.
“Como o projeto era meu, as regras eram minhas, quando os caras entraram a gente começou a produzir junto e surgiu a ideia de fazer um disco apresentando cada um dos integrantes. Aí, o final da trilogia é o ‘atoxxadão mor’”, explica Rafa Dias, 29, idealizador do Àttøøxxá, com bom humor.
Luv Box terá como guia as referências musicais de Raoni, “cara interiorano de Paulo Afonso, que fazia som no barzinho, voz e violão, e tocava bastante música de samba”, explica o próprio cantor de 27 anos. “Escrevi todas as letras baseadas nesse tema romântico que o samba traz”, revela Raoni.
O samba vai ganhar espaço no lugar do pagode, mas o disco vai manter uma característica comum aos trabalhos do Àttøøxxá: a inovação. “Você vai esperar o que ainda não viu, um som diferente. A gente está mais perto ainda daquilo que se chama de música pop, nesse novo disco. Se Blvck Bvng é pop, o próximo é ainda mais pop”, garante Raoni.