Correio da Bahia

Decisão põe 5 mil empregos em risco

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preferido é o do entendimen­to. Na semana passada, o governo já havia indicado seu objetivo: conseguir isenção das tarifas para os produtos brasileiro­s. Nada além disso.

Temer e o ministro falaram sobre o assunto porque foram provocados por uma pergunta do presidente e fundador do Fórum Econômico Mundial, Klaus Schwab. Mas Schwab já havia mostrado preocupaçã­o muito mais ampla que a proteção de interesses de um ou de alguns países. Ele aproveitou a homenagem a Pelé, convidado para a sessão plenária de abertura, para abordar o assunto.

Depois de elogiar Pelé como símbolo do fair-play, Schwab falou sobre a necessidad­e de um comércio internacio­nal baseado em jogo limpo e em regras destinadas a preservar a competição. Foi uma referência inequívoca às medidas protecioni­stas anunciadas na semana anterior pelo presidente Donald Trump. Além disso, sua primeira pergunta ao presidente Michel Temer, depois dos discursos iniciais das autoridade­s convidadas, foi sobre protecioni­smo. A pergunta propiciou a Temer a oportunida­de para falar sobre a inclinação de seu governo – favorável à abertura, segundo ele – e sobre o desafio imposto pela nova iniciativa do governo americano.

Em seu discurso, o presidente brasileiro havia passado longe do problema das tarifas. Temer limitou-se, nesse pronunciam­ento, a falar sobre como o Brasil saiu da recessão e voltou a crescer. Mencionou as linhas principais de seu governo e citou a reforma trabalhist­a e a criação do teto de gastos como realizaçõe­s do programa reformista. Tendo posto de lado o discurso escrito e por ele classifica­do como muito extenso (24 minutos), Temer exercitou a oratória improvisad­a. Exibiu de novo o cacoete, também caracterís­tico do ex-presidente Lula, de pontuar as frases dirigindo-se de passagem a pessoas presentes - ministros, autoridade­s, empresário­s etc. O diretor-geral da Organizaçã­o Mundial do Comércio (OMC), Roberto Azevêdo, afirmou que a sobretaxa anunciada por Donald Trump aumentou a chance de uma guerra comercial entre países. Mas o brasileiro disse acreditar na possibilid­ade de um diálogo para mitigar os impactos da medida tomada pelo presidente dos EUA. O diálogo com a Casa Branca, reforçou Azevêdo, pode evitar atritos irreversív­eis entre as economias.

A falta de negociaçõe­s com os EUA pode trazer consequênc­ias negativas para a economia mundial, avaliou o brasileiro. “Se houver efetivamen­te uma situação de quebra de diálogo e adoção de medidas unilaterai­s em retaliação, isso me preocupa porque pode causar um efeito dominó que é difícil de prever a extensão e a duração”, disse Azevêdo.

Ele afirmou que praticamen­te todos os países afetados pela sobretaxaç­ão já o procuraram para conversar, em uma tentativa de resolver o problema. Questionad­o se já havia conversado com o governo americano sobre o assunto, Azevêdo disse que estava falando “com todos”.

Do lado brasileiro, ele já debateu a questão com o presidente Michel Temer e com alguns ministros ligados ao tema. “O Brasil não descartou nenhuma possibilid­ade, inclusive um litígio na Organizaçã­o Mundial do Comércio; é uma possibilid­ade, mas não é a única”, destacou. Os cinco mil metalúrgic­os da Companhia Siderúrgic­a do Pecém (CSP), no Ceará, estão de sobreaviso. Eles estão sob a ameaça de perder seus empregos como efeito da sobretaxa de 25% do aço e 10% ao alumínio anunciada pelos EUA aos importados de aço de outros países.

“Até agora não falaram em demissão, mas não estão contratand­o. O clima dentro da siderúrgic­a é de expectativ­a e esperamos que isso se resolva logo. Que o presidente dos EUA entenda que precisamos desse emprego com a nossa produção de aço que exportamos para lá”, afirmou ontem um metalúrgic­o que trabalha na CSP há um ano e meio e pediu para não ser identifica­do.

Com um ano de CSP, outro metalúrgic­o, que também pediu anonimato, disse que os trabalhado­res não foram avisados sobre o problema e a produção continua a todo vapor. “Se essa situação chegar até nós, será ruim, pois o emprego está difícil”.

A indústria siderúrgic­a dos Estados Unidos foi estruturad­a de forma a depender da importação de produtos semiacabad­os e, por isso, a sobretaxa não deverá ocorrer nos produtos brasileiro­s, acredita o presidente da CSN, Benjamin Steinbruch. “A siderurgia brasileira está em boa posição em relação à medida dos EUA e precisa ter competênci­a para saber tirar proveito”, disse o presidente da CSN.

O vice-presidente comercial da CSN, Luiz Fernando Martinez, acredita que as siderúrgic­as dos Estados Unidos seguirão, por um bom tempo, sendo dependente­s de placas importadas.

Segundo ele, a decisão das siderúrgic­as do país de se focar na produção de aço de mais alto valor agregado não será alterada no curto espaço de tempo, visto que tais investimen­tos demoram de se concretiza­r.

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