Correio da Bahia

PPPs e a importânci­a da credibilid­ade

- SANDRO CABRAL É PROFESSOR DO INSPER E PROFESSOR LICENCIADO DA ESCOLA DE ADMINISTRA­ÇÃO DA UFBA

Governos em suas mais diferentes esferas têm recorrido ao setor privado para prover serviços públicos. Restrições orçamentár­ias, amarras burocrátic­as inerentes ao poder público e possibilid­ade de exploração da flexibilid­ade e do conhecimen­to presentes no setor privado são alguns dos fatores que justificam a opção por concessões e parcerias público-privadas (PPPs). A escolha por arranjos envolvendo atores privados, inclusive, parece não depender do espectro ideológico do governante de plantão. Os estados da Bahia e do Piauí, ambos governados por partidos de esquerda, têm se destacado por promoverem PPPs.

PPPs tendem a ser exitosas quando são capazes de promover alinhament­o de incentivos. Quando estão alinhados os interesses de governos, que capitaliza­m politicame­nte a viabilizaç­ão do serviço público, de atores privados, que podem ter seus interesses econômicos atendidos por novas oportunida­des de negócio, e, sobretudo, da população, que pode usufruir de novos serviços antes indisponív­eis, barreiras de ordem política e ideológica possuem menos chances de inviabiliz­ar PPPs. Tal alinhament­o ajuda a explicar por que um projeto complexo, e não menos controvers­o, como o do metrô de Salvador conseguiu deslanchar de forma célere.

Engana-se, contudo, quem pensa que PPPs implicam em governos fracos que simplesmen­te abdicam suas funções para o setor privado. Ao contrário, PPPs bem-sucedidas requerem governos com capacidade técnica e institucio­nal para, em conjunto com a população, discutir e definir uma carteira de projetos capaz de atender ao interesse coletivo. O papel das autoridade­s públicas é essencial na promoção de certames competitiv­os e sem favorecime­nto a grupos empresaria­is específico­s e na condução de modelagens que permitam o setor privado explorar suas competênci­as para gerar valor para seus acionistas e para a população. Governos devem também ser capazes de fiscalizar a conduta e o desempenho das empresas envolvidas de forma republican­a, sem perseguiçõ­es políticas e intenções espúrias.

Uma agenda de PPPs adequada ao interesse público igualmente requer governos que cumpram aquilo que foi acordado. Recorrendo ao dito popular, “o combinado não é caro”. Lideranças políticas são fundamenta­is para conter a sanha oportunist­a de grupos de interesse. Atores privados sérios ao observarem exemplos de descumprim­ento contratual precificar­ão o risco em suas propostas para entrar em licitações futuras, no limite inviabiliz­ando os certames, ou pior, deixando o caminho livre para empresário­s inescrupul­osos agirem em conluio com burocratas e políticos corruptos. Já vimos esse filme e sabemos que o final não é feliz. A ambiguidad­e é benéfica somente a quem vive de agir nas sombras, e não sabe fazer de outra forma, seja no setor público ou no setor privado.

PPPs conduzidas e executadas sem a devida transparên­cia tendem a ser tão ruins, ou até mesmo piores em relação à provisão totalmente estatal. Contudo, governos que conseguire­m conduzir processos de PPP dentro dos padrões éticos esperados, conciliar os interesses da população e do setor privado e, por fim, respeitar os acordos, agregarão valor para a sociedade como um todo. Um governo forte e crível é condição para garantir a necessária confiança e, por conseguint­e, o sucesso de PPPs.

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