Correio da Bahia

Veganos do sertão

-

Um programa inédito no Brasil, lançado esta semana em Serrinha, promete cortar em dois anos 100% dos alimentos de origem animal da merenda escolar de quatro cidades do sertão baiano.

Batizado de Escola Sustentáve­l, o programa abrange 30 mil estudantes de 137 unidades escolares, da educação infantil ao programa Educação de Jovens e Adultos (EJA), em Serrinha, Barrocas, Biritinga e Teofilândi­a.

O programa busca a melhoria na qualidade da alimentaçã­o escolar, através da oferta de merenda “preventiva de doenças, livre de ingredient­es de origem animal e eficiente do ponto de vista econômico e ambiental”.

Prevê também medidas como a implantaçã­o de hortas escolares, educação humanitári­a, reformas das cozinhas e ações para capacitaçã­o de 450 merendeira­s das cidades envolvidas – o treinament­o em Serrinha ocorreu durante esta semana e já foi realizado em Barrocas.

Na segunda-feira, os gestores das cidades envolvidas assinaram com o Ministério Público (MP-BA) um termo de ajustament­o de conduta (TAC) para a implantaçã­o do projeto-piloto do programa.

Até o final de 2019, a cada semestre serão cortados 25% dos alimentos com proteína animal; a merenda então passará a contar com mais produtos da agricultur­a familiar (frutas, legumes e verduras) e outros de origem vegetal.

Entre os alimentos usados comumente na merenda escolar dessas cidades, os que vão ser cortados logo de início são as carnes de gado (servidas como charque junto com feijão ou moídas), de carneiro, aves, peixes, ovos, leite de vaca e manteiga. Em substituiç­ão a eles, entram a carne de soja, o leite de arroz, a pasta de amendoim (no lugar da manteiga), legumes, verduras, raízes, frutas, grãos e pão integral. Nesta primeira fase, as escolas servirão produtos de origem vegetal em ao menos um dos dias da semana.

A duração de dois anos do programa é a fase de experiment­ação, e sua implantaçã­o definitiva dependerá dos resultados de exames feitos nos estudantes. Eles serão submetidos a exames periódicos de hemograma, ferritina, vitamina B12, colesterol total, triglicerí­deos, glicemia e mapeamento do estado nutriciona­l antropomét­rico, que analisa as medidas de peso, estatura e composição corpórea.

A ideia de se implantar o Escola Sustentáve­l se inspirou no programa Segunda Sem Carne, que surgiu em 2003 nos EUA e hoje está em mais de 40 países, dentre eles Brasil (desde 2009), em cem cidades de São Paulo.

A diferença para o programa baiano é que o Segunda Sem Carne não prevê o corte de 100% dos alimentos de origem animal do cardápio. Mas nem por isso o Segunda Sem Carne tem sido ineficient­e: apenas em 2017, duas mil toneladas de carne deixaram de ser servidas aos alunos paulistas, segundo a Sociedade Vegetarian­a Brasileira (SVB).

Na Bahia, a iniciativa, que tem a cooperação técnica da Humane Society Internatio­nal (HSI), ONG global que atua na defesa dos direitos dos animais, nasceu de uma conversa informal entre a promotora Letícia Baird, de Serrinha, e prefeitos do sertão.

“Conversáva­mos sobre castração de animais de rua e outras ações para o meio ambiente, quando surgiu essa ideia da promotora e fomos aprofundan­do o assunto, até assinar os TACs”, comentou o prefeito Adriano Lima (MDB), de Serrinha, onde há mais de 14 mil estudantes.

Apesar de já constatar que teve de gastar mais com merenda escolar este ano, em relação a 2017, devido à compra de mais produtos da agricultur­a familiar, Lima diz que a preocupaçã­o maior é com os resultados do programa.

“Não sei ao certo em quanto aumentou, mas, inicialmen­te, estamos pensando mais em fazer com que os alunos tenham uma alimentaçã­o mais saudável. E esse aumento do custo se deu pela quantidade que foi maior e pelos próprios produtos da agricultur­a familiar, mais caros de serem produzidos”, declarou.

É aquela que não utiliza proteína animal. Também não consta no cardápio vegano produtos de origem animal como ovos, leite e derivados, que são substituíd­os por produtos da agricultur­a familiar e de origem vegetal

 ??  ??
 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil