Alunos estão obesos e desnutridos
Durante a fase de estudos para implantação do programa Escola Sustentável, foi realizado um levantamento junto às secretarias de Saúde das cidades envolvidas e foi constatado que os alunos estavam com obesidade e problemas de subnutrição. Os dados, por serem sigilosos, não foram divulgados.
“Analisei os dados. Eles são preliminares e internos. Vão se tornar um projeto de pesquisa para o ensino superior e apontam que as crianças ou estão com baixo peso ou excesso de peso, o que não deixa de ser um problema nutricional. Essa é uma realidade no Brasil: a cada criança desnutrida há três obesas”, declarou a nutricionista Camilla Almeida Menezes, mestre em Alimentos, Nutrição e Saúde pela Universidade Federal da Bahia (Ufba).
Uma das voluntárias no projeto, ela explica que não há motivo para receios na troca da proteína animal pela vegetal e critica o uso de alimentos processados, que possuem altos índices de sódio. “O valor da proteína é muito superestimado pela sociedade. Para se ter uma ideia, a quantidade necessária de proteína para uma criança é de 0,8 a 1,2 grama por quilo. Ou seja, é muito fácil atingir isso com 70 a 80 gramas de grãos”, explicou.
A gerente de políticas alimentares da HSI Brasil, Sandra Lopes, informou que a ONG atuará com profissionais no monitoramento dos resultados das pesquisas nutricionais e na análise dos resultados sobre gastos públicos com a merenda escolar.
“Daremos o apoio necessário para que o processo de compra seja racionalizado e faça com que as crianças possam se alimentar melhor, valorizando os produtos regionais e movimentando também a economia local”, declarou.
Dentre outras ações que as prefeituras terão de fazer, conforme os termos de conduta, estão ações educativas diversas, como a “VegSertão”, uma feira científica sobre produtos regionais de origem vegetal, e a proibição da comercialização de produto estranho à alimentação escolar oferecida nas unidades. A promotora Letícia Baird, atuante na área do meio ambiente e dos direitos dos animais, informou que os pais de alunos que não se sentirem à vontade para dar a seus filhos a alimentação proposta pelo programa Escola Sustentável, terão a liberdade de dar a eles a merenda escolar levada de casa.
“Não se trata de imposição alimentar, de alimentação restritiva. Estamos tratando de recurso público, que tem de ser gasto com eficiência. Uma das cláusulas do TAC prevê que se o pai discordar da alimentação oferecida pelo município, ele pode enviar para o filho a merenda na bolsa. Isso está expresso”, destacou.
Letícia explica que uma das bases em que o programa está amparado é a própria Constituição federal, no que se refere à eficiência no uso dos recursos públicos. “A alimentação atualmente não traduz essa eficiência. As despesas mais pesadas na merenda escolar são mais com carne e leite em pó”, critica.
“O custo financeiro e ambiental com esses alimentos não é compatível com a lei do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), que diz que o cardápio tem de se pautar na sustentabilidade e diversificação agrícola da região”, continua a promotora, lembrando que há diversos estudos que mostram que “carne processada é causadora de diversas enfermidades”.
“O custo ambiental da produção de carne é muito maior que o da produção de grãos. A produção de 120 gramas de carne bovina gera 9 kg de emissão de gases do efeito estufa, consome 2.400 litros de água e ocupação de 9 metros quadrados de área. A produção desses 120 gramas de carne é o equivalente a 500 quilos de grãos. Então, com 3 quilos de grãos se alimenta muito mais pessoas”, conclui Letícia Baird.