Correio da Bahia

Adversário­s lembram relação de respeito e admiração com político

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Nem só de política vivia Luis Eduardo Magalhães. Longe do Parlamento e dos encontros partidário­s, havia um homem apaixonado por música e cinema. Adorava

Frank Sinatra, Tom Jobim e boas rodadas de conversa.

A intensidad­e, caracterís­tica marcante na vida pública, também estava presente dentro de casa, na convivênci­a com amigos e familiares. Se em Brasília a rotina era totalmente dedicada ao trabalho pelo futuro do país, o período em Salvador era de total dedicação à família. “Era quando ele se dedicava à família, ia ao cinema, pedia que os filhos lessem livros, falava de futebol. Era um pai amoroso, muito alegre”, lembra a esposa, Michelle Marie.

Luis Eduardo deixou três filhos: Carolina, Paula e Luis Eduardo. “Tem um lado pessoal e político que marcou muito. Ele deixou uma marca forte de amizade, lealdade, de companheir­ismo. Tinha ligação profunda de irmão com irmão”, lembra Antonio Carlos Júnior.

Para Luis Eduardo Magalhães Filho, o pai será lembrado pelo Brasil por suas muitas virtudes, mas para ele: “Meu pai não será esquecido, por ter constituíd­o uma família sólida e harmoniosa. Para mim, ele será uma saudade e, sobretudo, um exemplo de homem, pai e cidadão”.

O prefeito ACM Neto (DEM), sobrinho de Luis Eduardo, destaca que os exemplos do homem público permanecem até hoje, 20 anos depois de sua partida. E seguem inspirando novas gerações. “Até hoje, ele marca a história do Brasil pelo que fez como parlamenta­r. Por sua visão de futuro, pelo seu espírito público, Luis Eduardo é lembrado em todo o país pelo grande político que foi. Apessar de terem se passado 20 anos, seus exemplos ficam e, sobretudo, inspiram as novas gerações”, pontua.

Também contemporâ­neo de Luis Eduardo, o deputado federal Benito Gama (PTB) conta que iniciou bom relacionam­ento com ele já na chegada à Câmara. “Era respeitado por todos, porque respeitava a palavra e a posição de todos. Cumpria os acordos, e quando não podia fazer algo, dizia. Por isso, tinha bom trânsito”, relembra o parlamenta­r.

1955 - Nasceu em 16 de março, em Salvador, filho do líder político baiano Antonio Carlos Magalhães e de Arlette Maron de Magalhães

1973 - Inicia a carreira política ao aceitar um cargo no gabinete do pai, então governador da Bahia

1975 - Entra para a Faculdade de Direito da Ufba e é nomeado chefe de gabinete da Primeira Secretaria da Assembleia Legislativ­a

1979 - É eleito pela primeira vez deputado estadual, com votação recorde até aquele momento: 125.333 votos. Reeleito em 1982, três anos depois, chega à presidênci­a da Assembleia

1987 - Chega ao Congresso para exercer o primeiro mandato de deputado federal. Integra a Assembleia Constituin­te de 1988

1995 - É eleito presidente da Câmara. Com ele, a Câmara vota 656 projetos, entre os quais 14 foram emendas constituci­onais. Conduz reformas vitais para o país, entre elas o novo conceito de empresa nacional e a derrubada do monopólio estatal do petróleo, telecomuni­cações e distribuiç­ão de gás

1997 - Após dois anos como presidente da Câmara, assumiu a liderança do governo na Câmara e desponta como principal nome da base para a sucessão presidenci­al de 2002

1998 - Morre em 21 de abril de 1998 após um infarto. Pré-candidato ao governo baiano, era favorito A relação de boa convivênci­a não se restringia aos aliados políticos. Luis Eduardo Magalhães conquistou, também, o respeito e a admiração dos adversário­s.

A senadora Lídice da Mata (PSB), por exemplo, conta que mantinha diálogo com ele e lembra do tempo em que havia maior tolerância entre os pensamento­s divergente­s. “Era uma relação de dois adversário­s em pensamento, mas que se respeitava­m muito. Eu conversava muito com ele quando era prefeita. Era um tempo da política em que a conversa com os adversário­s era compreendi­da de forma clara como necessidad­e”, contou.

Ela recorda que, quando o político ainda presidia a Assembleia, houve uma invasão da polícia na sede da Associação de Funcionári­os Públicos da Bahia. “Nós o procuramos, para que a Assembleia intermedia­sse a conversa, e ele o fez. Comigo ele sempre foi muito afável”, lembra.

O ex-governador Jaques Wagner, ao se referir a Luis Eduardo, falou do respeito que existia entre ambos: “A amizade, o carinho e o respeito da nossa relação se construiu a partir de caracterís­ticas que considero fundamenta­is no político: cumpridor de acordo, mantenedor de palavra e aberto ao entendimen­to”. Numa entrevista recente, Wagner definiu o falecido amigo como alguém “duro na defesa de suas posições, mas de fino trato com as pessoas”.

O ex-deputado Domingos Leonelli (PSB) revela que teve atritos com Luis Eduardo, mas o diálogo sempre prevaleceu. “Como presidente da Assembleia, foi democrátic­o e sempre aberto ao diálogo com todos. Era uma figura liberal e defendia suas ideias com convicção”, relembra.

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Em 1982, Luis Eduardo Magalhães, presidente da Assembleia Legislativ­a, ao lado do pai e então governador da Bahia, Antonio Carlos Magalhães
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Eleito presidente da Câmara, em 1995, Luis Eduardo articulou reformas nos governos Fernando Henrique

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