A chibança foi boa
Banho de pipoca, acarajé para abrir os caminhos, música que fez até a moça do espetinho dançar e um cortejo que, literalmente, parou o trânsito. Quem passou pelo Campo Grande na tarde de ontem, encontrou uma festa de amigos cuja cordialidade era nítida. “Já compraram vossos livros, ‘rebain’ de hereges?”, dizia um cartaz que resumia o clima bem humorado em torno do evento de lançamento do livro de estreia do jornalista baiano Franciel Cruz, 48 anos.
O carinho era recíproco, seja por parte de Franciel que assumiu que o projeto saiu do papel porque “os amigos encheram o saco”, seja por parte dos amigos que não pouparam o anfitrião. “Ele inferniza nossa vida. Faz uma bagunça na minha timeline”, brincou a produtora multimídia Ana Dumas, 54, responsável pela trilha sonora do cortejo que saiu do Campo Grande até o Icba/Goethe- Institut, onde aconteceu a sessão de autógrafos do livro Ingresia (Editora P55 | 258 páginas | R$ 30).
Torcedor do Vitória, o autor foi provocado com o hino do Bahia, mas não deixou barato e disse que a trilha era perfeita para os tricolores que quisessem “chorar ao pé do caboclo”. “Publicamente, Franciel tem esse perfil irreverente, é o cara da chibanca, da bagunça. E é tudo tão conservador e quadrado, hoje em dia, que todo mundo cola para preservar e multiplicar essa energia dele”, completou Dumas, que comandou a festa com seu carrinho de café multimídia.
Pois foi esse o clima do cortejo puxado por Franciel, que atravessou a rua com um cesto de acarajé na cabeça e parou o trânsito do Campo Grande ao arrastar cerca de 200 pessoas com ele. “Que presepada!”, ria uma amiga. “Com Franciel, tudo vira comício”, divertia-se outra. “A literatura é só pretexto para a folia”, admitiu o próprio autor, ao CORREIO.
Além de Franciel, a escritora Núbia Bento Rodrigues, 50, também lançou o livro infantojuvenil Sítio Caipora. “Fiz um puxado no lançamento de Franciel, porque somos amigos e temos o estilo de humor parecido, apesar dele ser muito mais exibido”, gargalhou Núbia. “A gente junta palhaçadas e quanto mais presepada, melhor”, garantiu.
A própria palavra Ingresia faz referência ao barulho que o autor propôs na sua estreia literária que mistura humor e ironia para abordar o cotidiano e a baianidade. “Mesmo sendo Vitória, ele é um grande contador de ‘causos’. Conta casos do dia a dia como se fossem inventados!”, destacou a advogada e amiga Bethânia Rodrigues, 41, sobre as 90 crônicas da obra que tem orelha assinada por Xico Sá, prefácio de Cláudio Leal e posfácio de André Setaro (1951-2014).
Outro amigo que botou pilha para Franciel registrar sua informalidade, foi o jornalista Emmanuel Mirdad, 37, coordenador- geral da Festa Literária Internacional de Cachoeira (Flica). “Botei pilha, né? Enchi o saco, porque esse cara é um cronista sensacional. Deixar registrado em livro esse linguajar peculiar, que é a língua falada nas ruas da Bahia, é muito importante”, justifica.
Futebol, política e outros temas aparecem no livro que tem sotaque e não nega suas origens. Além do humor, o lado social também aparece nas crônicas de Franciel que “é uma figura única na Bahia”, segundo o jornalista e curador da Flica, Tom Correia, 48, responsável pela edição de Ingresia.
“As crônicas dele me remetem muito a uma mistura psicodélica de grandes figuras da Bahia: Wally Salomão, Cuíca de Santo Amaro, Armando Oliveira, que é referência do futebol, Albergaria, André Setaro... Franciel reúne o melhor do que essas figuras representam”, elogia Tom. “As crônicas têm um viés de humor, mas de análise crítica do social, da política. É um momento que coroa quem ele é”, completa.