Categoria precisa de apoio e reciclagem
leva a uma projeção de R$ 4,05 bilhões de déficit previdenciário para este ano – 20% a mais que no ano passado, quando foi de R$ 3,37 bilhões.
“O aumento de aposentadorias impacta diretamente no déficit da previdência e exige do governo esforço para manter o equilíbrio de suas contas e honrar compromissos. A gestão atual vem empenhando esforços para continuar pagando aos servidores em dia e dentro do próprio mês”, diz a nota.
A SEC informou que montou uma força-tarefa para agilizar os processos de aposentadoria dos profissionais da Educação junto com a Saeb. "Além do esforço para a redução do passivo de pedidos de aposentadoria, o governo também oferece incentivos aos servidores em condição de se aposentar que tenham interesse em se manter em atividade”, diz a pasta, citando a Bolsa de Estímulo à Permanência em Atividade de Classe.
Criada em 2016, a bolsa prevê o pagamento de benefícios de R$ 800 a R$ 1.600 para quem deseja permanecer em sala mesmo após atingir os pré-requisitos para parar.
A professora Rosimary, na verdade, poderia ter se aposentado bem antes – completou 50 anos e 25 anos de rede na mesma ocasião. No entanto, na época, trabalhava em regime de 20 horas semanais, por questões familiares. Decidiu pedir a mudança de regime para 40h, mas essa mudança demorou para vir.
Só veio mais de quatro anos depois, quando já estava prestes a desistir e pedir a aposentadoria assim mesmo. “Quando foi publicado, tive que ficar cinco anos ininterruptos trabalhando para enquadrar essas 20 horas. Só depois é que pude pedir de fato”.
Ela diz que não se sente desgastada pela idade – pelo contrário. O cansaço é mesmo devido à quantidade de anos trabalhando e pelo que encontra em sala, que nem sempre são alunos comprometidos e dispostos a estudar. Sem ajuda nem mesmo dos pais dos estudantes para mudar alguns comportamentos dos alunos, se viu desestimulada.
“Estamos remando numa maré brava e sozinhos, porque pouquíssimas são as famílias que conseguem nos apoiar e serem presentes em sala”, opina a professora, que diz ter passado e presenciado incontáveis situações de agressão verbal, o que, para ela, acaba com a resistência do professor.
Os estudantes comprometidos também reclamam e citam profissionais que parecem ter desistido de fazer um bom trabalho. Aluna do 2º ano do Ensino Médio no Centro Estadual de Educação Profissional (antigo Iceia), Amanda Cristina, 16, cita o caso de uma professora que, prestes a se aposentar, já não tem paciência para ensinar.
“Ela só passa trabalho valendo 10. Parece que não sente mais vontade de dar aula. E são trabalhos que você entrega não sei quantos meses depois. Tem dias que nem vou na aula”, revela a moça, que deseja fazer o Enem para ingressar numa faculdade de Direito.
O estudante Luiz Henrique Pita, 17, do 2º ano do Colégio Estadual Manoel Novaes, diz que a falta de professor devido à saída de aposentados é frequente. No entanto, os alunos não ficam sem aula – sempre há estagiários dos cursos de licenciatura que cumprem o requisito. “Eles (os estagiários) ensinam melhor do que alguns professores, na verdade. Parece que se sentem mais à vontade, com mais ânimo”, diz, sem generalizar.
Em abril, a professora Ana Maria Macêdo, 50, ganhou uma surpresa. Era uma festa de despedida, organizada por alunos e colegas de trabalho da Escola Estadual Santo Antônio, em Feira, onde trabalhou por quase três décadas: ela tinha, finalmente, se aposentado no estado. Quatro meses antes, em janeiro, já tinha conseguido a aposentadoria na rede municipal. Ana estava feliz – tinha feito o pedido da aposentadoria em agosto. Por mais que tivesse demorado oito meses, ela acredita que era algo a se comemorar, afinal, colegas na mesma condição chegam a esperar três anos.
Formada em Letras com Inglês, e com duas pós-graduações, era docente de Língua Portuguesa e Redação, mas após tantas horas em sala de aula – 60 por semana –, sentia que precisava parar. Professoras, como ela, podem se aposentar quando completam 25 anos de serviço – para os homens, esse tempo mínimo é de 30 anos. Além disso, é preciso que as mulheres tenham pelo menos 50 anos. Os homens precisam ter 55.
“Na verdade, alegria com aluno eu ainda tenho, a alegria de ensinar, mas com algumas atividades burocráticas eu já estava me sentindo desgastada”, lembra a pró Ana, que agora pretende fazer um curso de designer de interiores para trabalhar com a filha mais velha, que é arquiteta. Diz que o objetivo é se manter ativa. O problema, para a psicopedagoga Gleide Moreira, conselheira da Associação Brasileira de Psicopedagogia na Bahia, é que, como muitos dos professores antigos já se sentem cansados, acabam não se reciclando. Muitos não conseguem acompanhar a renovação das demandas dos estudantes.
“De alguma maneira, sobra para os meninos, que não têm nada a ver com a história. As crianças precisam de um olhar mais especial, mais sensível e, muitas vezes, não têm isso. Estou vivendo uma situação muito parecida com atendidos tanto na escola pública quanto na particular. A justificativa da direção para o não atendimento do professor a uma criança disléxica é de que a professora já está perto de se aposentar, que já está cansada. Então, a criança que espere o ano que vem”, cita.
Ela reforça, no entanto, que esses professores devem ser acolhidos. Segundo Gleide, é importante que a própria instituição encontre formas de ajudar esses profissionais, que pode incluir o oferecimento de cursos e oficinas até reuniões com psicopedagogos. “Existe uma demanda hoje que, antes, não era vista. Hoje, é preciso ter um olhar mais sensível para um aluno disléxico. A gente não pode crucificar esses professores. Tem que acolhê-los”.
Esse tema, porém, é ainda mais complexo, como aponta a doutora em Educação Rosemary Lapa, professora do curso de Pedagogia da Uneb. E pior: é uma situação que está diretamente ligada à desvalorização dos professores e da docência. Por isso, muitos profissionais se desiludem, perdem o encanto.
“É uma falta de respeito social mesmo, não apenas dentro da sala. Até porque, na sala, você acaba seduzindo os alunos, mas, de forma geral, é uma profissão desvalorizada e descuidada”.
Ela destaca que, no entanto, há muitos que estão perto de se aposentar mas que ainda têm muito a oferecer. Ao mesmo tempo, parte dos novos profissionais que têm saído das universidades começa a ensinar com uma formação defasada. Por isso, há um esforço nas universidades para rever currículos.
“Isso poderia ser superado através de um processo como a residência docente, projeto que as universidades tentam implantar, para que os recém-formados que entrarem na rede fiquem assessorados por esses professores seniores. Em poucos lugares é que se faz como o Brasil, que o sujeito, antes de se formar, já está na sala”.
A residência docente faz parte da Política Nacional de Formação de Professores, lançada pelo MEC em 2017. Em todo o país, serão 80 mil vagas para o programa, no qual os estudantes podem participar de uma imersão em escolas credenciadas, a partir da segunda metade do curso. Há bolsas para os alunos, coordenador e professor da universidade, além do professor da escola de educação básica que acompanhará os residentes.