Produção de veículos recua quase 34%
O economista e professor Antônio Carvalho diz que a retração da industrial significa um impacto nos demais setores produtivos. “Isso porque ela representa o centro das grandes cadeias e gera impacto em todas as cadeias que alimentam ela: desde a primária, por exemplo, no extrativismo, agricultura e pecuária”, afirmou.
O encolhimento pode significar desemprego, redução na renda das famílias e diminuição no nível de consumo de produtos e serviços. “A indústria é o indicador central. Todo o entorno é influenciado por ela. Quando a indústria de automóvel é impactada, por exemplo, ela impacta no fabricante de pneus, de amortecedores e todos os componentes do carro. E isso cria um ciclo problemático que se retroalimenta o tempo inteiro”, explicou.
O economista ainda explica que a greve dos caminhoneiros afeta a percepção internacional do Brasil e no “fator confiança” da economia. “Quem tem dinheiro vai pensar 10 vezes mais antes de investir no Brasil, vai levar em conta todos esses riscos. E quem tem dinheiro aqui no país vai passar a preferir guardar do que gastar, nesse cenário de instabilidade”. As indústrias mais afetadas pela greve dos caminhoneiros são as dependentes do sistema rodoviário, segundo o economista Antônio Carvalho. No estado, o setor que mais sofreu foi o de fabricação de veículos, que teve recuo de 33,7%.
Essa foi a primeira queda da atividade - que estava em crescimento contínuo desde julho de 2017. O setor de celulose foi o segundo com maior impacto, com queda de 19% e a produção alimentícia, em terceiro lugar, sofreu um recuo de 15,8%.
A nível nacional, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) teve que revisar suas projeções deste ano por conta da greve dos caminhoneiros. A expectativa da entidade é de que a produção de automóveis cresça, em 2018, em 11,9%. A previsão inicial era de um acréscimo de 13,2%. A exportação, que contava com possibilidade de 4,5% de crescimento, deve ficar estagnada.
O presidente da Anfavea, Antonio Megale, atribuiu a alteração à greve dos caminhoneiros. “O ritmo de vendas dos primeiros quatro meses estava um pouco acima da nossa expectativa inicial, mas a greve dos caminhoneiros trouxe impactos negativos. (...) (Ela) dificultou o abastecimento de peças para a produção e de transporte de veículos para as concessionárias. Além disso, trabalhadores e consumidores tiveram dificuldade com abastecimento de combustível, interferindo nos deslocamentos até a rede. Não fosse este cenário, certamente teríamos registrado maior crescimento em maio”, disse.
A indústria de alimentos sofreu um recuo de 17,1% em maio em relação a abril. A Associação Brasileira de Indústrias de Alimentação (Abia) realizou um levantamento que aponta redução de 16,04% nos alimentos industrializados.
A Associação alertou sobre os impactos da greve e também do tabelamento de fretes mínimos que, de acordo com eles, impõe “custos para a cadeia produtiva e de distribuição, que poderão incorrer na continuidade da quebra de produção e perdas de empregos”.